O meu caderno de desabafos. O meu diário. O meu espaço de catarse; de psicanálise. O meu livro de reclamações. A minha janela para o mundo. Eu. O meu blog. As minhas excitações. As minhas frustrações. As minhas paixões. A vida. A minha, de quem me rodeia, a que eu vejo e sinto. Dentro da lâmpada. Dentro do Mundo.

Outras esfregadelas...

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Sem palavras!

Sara, uma menina de dois anos, morreu, tudo indica vítima de maus tratos. A família já estava referenciada pela Comissão de Protecção de Menores ou pela Assistência Social desde 2005, que até agora não tinham agido por falta de meios. Ao que parece estava marcada uma visita para breve. Chegarão tarde!
Infelizmente também conheço o caso de um idoso a quem é necessária a assistência imediata, que ainda não aconteceu por falta de meios. E certamente a muitas outras Saras e a muitos outros idosos a quem se exige uma actuação rápida e eficaz, ela não acontece pela falta de meios: materiais ou humanos.
Sei que para alguns é fácil alegar que, por exemplo, no caso da Sara, a despenalização do aborto impediria que casos como este acontecessem. Impediria realmente? Sara tinha então culpa por ter nascido e querer viver? Não! A culpa é de quem permite, de quem admite que casos como estes aconteçam — já não falando de quem os provoca —, de quem fica impávido e sereno, não age e ainda bate alas à passagem dos que deveriam fazer leis e saber impô-las, além de terem capacidade para gerar condições para que a Sara crescesse e continuasse a sorrir.
Infelizmente, contudo, este é o País governado pelos que se preocupam mais em criar condições para que se aborte, que cria obstáculos à adopção e considera um luxo supérfluo e não comparticipável qualquer tratamento de fertilidade!

Ridiculo!

Isto é do mais ridículo que se possa imaginar e prova bem o desespero em que certas pessoas vivem...

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=13&id_news=255839

quarta-feira, dezembro 27, 2006

O Estado da Educação - IV

No fundo, no fundo, o difícil é conseguir alcançar o equilíbrio entre a liberdade do crescimento e o necessário exercício de autoridade para que a criança perceba correctamente os limites.
Para além de que o ponto desse equilíbrio variar de criança para criança — cada individuo é um individuo e necessáriamente diferente e com carácter próprio —, nada pior do que constatar como determinados pais que, esforçando-se em proporcionar um «mundo (materialmente) perfeito e agradável» para as suas crias, descuram o mais importante e decisivo para a criança: as desavenças, desacordos e total incapacidade de entendimento parental e, infelizmente, não raras vezes, o uso dos filhos como projécteis para agressões mútuas.

O Estado da Educação - III

Para reforçar a ideia que já tenho quanto ao importante papel dos pais na formação, nada melhor do que transcrever uma parte da correspondência trocada entre a professora referida no post anterior e o autor do livro «Lavrar o Mar»:

«(...) Nos tempos que correm as crianças vivem dentro de aquários. Fechadas e em redondo. Não brincam na rua ao apanha, não fazem recados, não trepam às árvores, não pilham da porta da mercearia do lado uma guloseima, não brincam aos médicos e às injecções escondidas nos arbustos, etc. Não se confrontam entre si e com os outros. Não descobrem os seus limites. Numa palavra, não se socializam capazmente.
É tão triste olhar hoje para esses quadrados a que chamam parque infantil e observar. Para cada criança há um adulto a controlar. A controlar tudo, até a conversa entre elas. Às vezes dois adultos por criança. São mais adultos que crianças.
Os obstáculos que lá estão colocados são de uma mariquice extrema. Um escorrega mini, uns cogumelos mini de borracha, a uns 30 centímetros do chão, para saltar, uns degraus mini para subir e descer. Tudo mini. Tudo reduzido. Trabalho corporal reduzido, dificuldades de pericia para superar reduzidas, treino do «desenrasca» reduzido. Zero de confronto e cooperação entre os miúdos.
Para ali andam sem estímulo á inventiva, não chegam sequer a montar um jogo de grupo. Não têm qualquer hipótese de transgressão saudável para aprender a medir. Não há descoberta das regras da vida em grupo. Todos absolutamente controlados pela paranóia da segurança.
Cá para mim são uma espécie de campos de concentração. Já não há lazer espontâneo, por conta própria, nem escola da vida.
O mundo tornou-se um lugar perigoso, diz-se. Há droga por todo o lado, doença em qualquer objecto e o nosso semelhante é sentido com desconfiança. O outro pode ser um raptor ou, pior ainda, um violador. Portanto, as crianças não aprendem nem treinam a liberdade e os seus limites. Há hoje todo um clima securitário que envolve excessivamente as crianças que não augura nada de bom. Digo eu.
Portanto vivem blindados e sedentariamente. Tornam-se inibidos, inseguros, «fracalhotes», mas com frequência obesos. Socializam-se passivamente. Vêem televisão e por ela são excitados na energia vital que possuem e não aplicam.
Vão para as creches ou jardins-de-infância onde cada vez mais se escolariza na ilusão patética de que isso é intelectualmente positivo. Nada mais errado.
A estrutura e a vivência da família tomaram outros rumos?!... Não estamos juntos, não há trocas, os papéis parentais não podem ser plenamente assumidos. Os pensamentos fundadores e a linguagem fundadora não dispõem de tempo para acontecer e cumprir o seu papel.
Noutros casos, a desorganização familiar instalou-se, as crianças não têm referentes claros e estruturadores. Os adultos à sua voltam não permanecem. Sucedem-se. Uns dão lugar a outros num permanente carrossel. A confusão instala-se. Não há modelos sólidos de identificação.
já todos estamos cansados de saber isso, embora façamos de conta.
Assim chegam à escola. Sem experiência integrada de liberdade e, meu amigo, a liberdade é o único caminho para a disciplina.
Bem pode a escola, justamente, gritar que os miúdos são mal-educados, que a escola já tem tarefas a mais e que não pode educar. Que compete à família educar. E por aí adiante.
Não há outro remédio, todos temos de educar. A escola também. Apesar de tudo, a escola ainda é o que os miúdos têm de mais seguro e estável.
»

A professora Eulália Barros simplesmente constata uma verdade nem sempre evidente para a maioria dos pais: quando em post anterior me referia às barbies e kens que sem dificuldade tropeçamos em qualquer centro comercial, vestidos com o rigor da moda imposta pelos adultos e déspotas na exigência, não mais reflectem um comportamento adquirido dos mais velhos.
São as crianças que não brincam de forma salutar, são as crianças que se isolam nos seus quartos onde não falta a TV, o DVD, a consola de jogos e o computador com a internet e que aprendem a interagir de forma virtual.
E porquê? Porque é mais fácil para os adultos contentá-los deste modo, porque exige menos disponibilidade de tempo e cria até a fácil ilusão de segurança e maior controlo sobre as suas actividades.
Esquecemo-nos do mais óbvio: um pequeno tombo pode prevenir quedas maiores e um individuo prevenido está muito mais preparado para enfrentar as adversidades.

O Estado da Educação - II

Para se ter uma ideia, no livro é abordada uma questão muito simples e prática, vivida por uma professora que não sendo da geração dos que cresceram com a informática, ou seja, não percebia patavina do assunto, decidiu aprender a funcionar correctamente com o seu portátil.
Tendo-se inscrito num curso privado de formação intensiva, rapidamente percebeu as dificuldades da aplicação prática da matéria teórica aprendida, tudo por causa da forma como o curso estava estruturado.
Essa má transição, essa não percepção, ou a importância prática e efectiva da aplicação do que se aprende na sala de aulas, desde sempre foi um dos factores desmotivadores dos alunos. Mais ainda hoje, quando existem mais e é mais facilitado o acesso a estímulos externos à escola, desde a televisão às consolas de jogo, passando pelo computador e pela internet.
Tornando-se necessário saber racionalizar o acesso a essas fontes de estímulo, sabemos todos que não apenas não é fácil como na maioria das vezes são os próprios progenitores os principais incentivadores ao seu uso!

O Estado da Educação - I

Já em tempos aqui desabafei pelo estado da educação dos mais novos em Portugal e não apenas no que se refere ao papel dos professores, mas de todos enquanto formadores.
O livro recente de Daniel Sampaio, «Lavrar o Mar», só vem confirmar o total desajustamento e a quantidade de erros que continuam a ser cometidos na formação dos «adultos de amanhã» e se a expressão vai entre aspas é pela dúvida se realmente atingiram um estágio de crescimento e maturidade para que possam ser considerados como tal.
Mas se todos são responsáveis, desde os pais que encaram os filhos como se de Barbies e Kens se tratassem, até quem cria e alimenta um sistema de ensino totalmente desintegrado da realidade, também é verdade que a solução do problema não é simples, nem rápida e nem sequer se trata de uma questão meramente portuguesa.

E por falar em financiamentos...

A estupidez chega ao ponto de haver «barraquinhas» na rua com defensores de cada um dos lados a recolherem donativos para as respectivas campanhas, para além, obviamente, de assinaturas para que possam ser considerados movimentos e participarem na campanha oficial.
Não tenho dúvidas quanto à facilidade de obtenção de fundos dos que pretendem alterar a lei, já que quem pretende ganhar dinheiro com o aborto sempre terão que investir algum.
O mais triste é que haja tanta mobilização para tudo isto e se preveja gastar rios de dinheiro como se o resultado, seja ele qual seja, se revista de uma importância extrema ou daí dependa o desenvolvimento. Não sei e duvido que alguém saiba ao certo quantas situações de aborto há anualmente em Portugal, mas certamente que, para cada uma dessas mulheres que continuarão a abortar, há uma criança carente, um sem-abrigo ou um idoso necessitado e pela felicidade ou bem-estar deles ninguém referenda.
E é toda esta hipocrisia que me faz sentir que tudo isto é um imenso caldeirão de merda que arranjaram para que o País se entretenha a remexê-lo.
Eu próprio sou um deles!

A discussão do aborto só tem gerado verdadeiros abortos!

Dei uma volta pelos diversos sites e blogs dedicados ao próximo referendo e confesso que fiquei ainda mais convencido da validade do que penso e acho.
Não me movendo qualquer sentimento católico para o não, mas uma moral que me impede de encarar com a leviandade que vi os adeptos do sim tratarem do assunto, justifico o meu NÃO ao referendo como forma de defender que este referendo nem sequer deveria ocorrer.
Não, não concordo e custa-me encarar a ideia de uma mulher ir parar à prisão pela prática de um aborto, muito menos me custa que quem se aproveita do drama alheio, bata lá com os costados.
Obviamente que tudo isto não passa de uma verdadeira palhaçada destinada a entreter e dividir a opinião pública durante uns tempos. Ninguém dúvida que na hipótese do sim vingar, muita gente ganhará com isso, até mesmo os donos das clinicas privadas que ainda muito recentemente vieram a publico dizerem que não tinham condições para a prática nesses estabelecimentos; é uma questão de finaciarem outros, obviamente, até porque já se está a ver que os hospitais e centros de saúde é que não vão ter capacidade para tal. Ou será que se andam a fechar maternidades para abrir centros de aborto?
Quem se lixa somos todos nós que vamos continuar a financiar a saúde com os nossos impostos, ou antes passaremos também a financiar a morte. Daqui a uns tempos estaremos ou estarão os senhores deputados a discutir afinal até quantos abortos por pessoa é que o Estado pode financiar, como acontece em Itália, e só a simples ideia disso acontecer é abjecta.

O maior português do Século XXI

Bem, se assim for e o senhor persistir no estilo e linha de acção, arriscamo-nos a que o filho da parteira possa vir a ser considerado o maior português do século XXI, numa votação levada a cabo pela televisão portuguesa em 2101...
Ai como eu gosto de ti Portugal... «quanto do teu sal são lágrimas...»

Regresso ao Passado: O Patriarca e Salazar nas mensagens de Natal!

Sendo agnóstico «praticante» não deixei por isso de ouvir a mensagem do «nosso» Patriarca. Gostei de o ver na escola do Tojal depois dos escândalos que a abalaram, pois gosto sempre de ver quem é responsável dar a cara, assumir e não fazer por esquecer ou disfarçar quando as coisas não correm exactamente como se professa.
Acabei também por gostar do discurso e não posso estar mais de acordo com o tema e o conteúdo, mesmo não sendo católico. É pena que, realmente, as crianças sejam o principal alvo de atitudes de adultos que não souberam, não puderam ou se esqueceram de quando foram crianças e é pena também, sobretudo, que na história dos hotéis referenciados como não aceitando ou preterindo crianças, tal se deva à incompetência pura e simples dos pais para educarem os filhos e dos outros que atrás referi.
Quanto à história do aborto, enfim, mais uma vez irresponsabilidade na sua esmagadora maioria de adultos que não sabem ou querem assumir obrigações... adiante!
Deixemos de falar de coisas sérias, para fazer um apontamento final ao tom e forma do discurso com que o outro senhor, o de S. Bento, nos brindou também pela altura do Natal. É impressão minha ou o estilo está cada vez mais parecido com as Conversas em Família de Caetano? Caramba, ou isso, ou temos um Salazar do Século XXI!

Sexo por atacado!


Não há revista feminina que todas as semanas não tenha um artigo relacionado com sexo e não o publicite na capa.
Cada vez mais, o sexo vende.
Nunca se falou tanto de sexo, nunca fomos tão desinibidos a discutir sexo, nunca o sexo esteve tão na moda.
O Mundo quer mais sexo, toda a gente quer mais e maior sexo; mais e em maior quantidade. É o super-orgasmo, são os orgasmos múltiplos, é a importância do orgasmo em simultâneo, o «blind date», a busca de emoções que o desconhecido proporciona no sexo com estranhos(as), é o sexo tântrico que atrasa o clímax à espera de que ele surja com mais intensidade, são as operações e produtos para alterações fisiológicas nos corpos masculinos e femininos, são os heterossexuais que procuram «novas» sensações nos relacionamentos com o mesmo sexo... e poderia ficar aqui, tantricamente o dia inteiro, a adiar o final do post...
As revistas explicam como encantar o parceiro(a), como levá-lo «às nuvens», como agradá-lo(a) e, caramba, se alguém dá verdadeiramente importância aquilo, só posso ser levado a crer que, realmente, cada vez se percebe menos do assunto!
A verdade é que falar mais, não implica necessariamente que se diga qualquer coisa de útil e de válido; definitivamente, em muita gente, o estágio de desenvolvimento pode ser o mesmo daquela fase da adolescência em que se faz e conhece tudo só para impressionar os outros...
Para ser franco, mesmo correndo o risco de ser julgado como «careta» (como eu gosto de correr riscos...), o que realmente acho é que há quem substitua ou pretenda substituir muita insuficiência própria, muita falta de auto-estima e muita insegurança com sexo.
Sim! Sexo é importante! Sexo é bom! O Sexo é muito importante numa relação, mas ainda estou para conhecer uma que se mantenha equilibrada só por sua causa. É verdade que há quem diga que sim... mas o que é que no fundo se pretende disfarçar, a que é que se pretendem «agarrar» como justificação?
Pertenço à geração dos que defendem que no sexo não tem que existir necessariamente amor, a virgindade não é um dom ou que o assunto deva ser um tabu.
Mas caramba! Cada vez mais me considero também, da geração dos que defendem que exista pelo menos um pouco de afecto no sexo!
Se é que me faço entender...

terça-feira, dezembro 26, 2006

«Vá-se» lá entendê-las?!

João Pereira Coutinho, cronista da Maxmen, tem numa das últimas edições, o seguinte comentário sobre as mulheres: «Freud morreu sem saber o que queriam as mulheres. Eu desconfio que Freud expirou quando percebeu o que elas queriam realmente. Ou seja, tudo e mais alguma coisa. Basta ler uma revista da especialidade e tremer com as homéricas exigências das fêmeas. Não, elas não querem apenas homens. Elas querem super-homens, capazes de deslumbrar no quarto, na cozinha, na sala – e nas horas livres suplantarem o humor de Woody Allen, a inteligência de Einstein e a criatividade de Chaplin. Não admira que a infelicidade seja comum. Quando se dispara para todos os lados, acaba por se espantar a caça.»
Sem querer obviamente generalizar — afinal é preciso ter fé de que ainda há mulheres com bom senso —, e mesmo correndo o risco de arcar com o epiteto de «machista», nada de mais verdadeiro. Mas não são elas próprias a propiciar que as coisas atinjam exactamente o ponto de que tanto se queixam?!
Hum?!

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Contra Senso II

Em Itália discute-se o direito à Eutanásia.
Em Itália, um médico vai sentar-se no banco dos réus por ter permitido a Piergiorgio Welbi, que sofria de distrofia muscular avançada e, por isso, vivendo num estado pouco mais que vegetativo desde 1997, dependente de máquinas, morresse com dignidade e deixasse de sofrer.
A Itália enviou tropas para o Iraque. No Iraque, morreram civis inocentes entre elas crianças que desejavam viver;
Em Itália, desde 1978 que é legal abortar e matar potenciais vidas a quem ninguém, obviamente, consulta sobre a decisão;
Em Itália não se permite que um adulto que sofre, se encontra num estado irreversível e no pleno direito das suas faculdades mentais, receba ajuda para se respeite a sua decisão; a Itália contribui para que se matem inocentes e aí cumpre-se a Constituição!

Contra Senso I

Um «dois-em-um» no que respeita a contra sensos...
A esperança média de vida é cada vez maior mas, cada vez mais, temos pressa em viver; ser famoso mais cedo; ser rico mais cedo; ser chefe mais cedo; ser reconhecido mais cedo; ter carro mais cedo; ter um carro de luxo mais cedo; tudo ter de material mais cedo...
No meio disto tudo esquecemo-nos do mais importante: viver!
À conta disso temos AVC's mais cedo, ataques cardíacos mais cedo, cancro mais cedo...
Onde está o segundo contra senso? É que a esperança de vida mais longa não tem a ver com mais saúde! Simplesmente os avanços da ciência permitem que vivamos doentes durante mais tempo...

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Troco...

15 pequenos e delicados agrafos em liga de titânio, provenientes de recente intervenção cirúrgica. Usados e ligeiramente abertos, tiveram a honra de partilhar o meu corpo 4 ininterruptos dias. Troco-os, à unidade ou em conjunto, a quem prometer tratá-los com o devido respeito e carinho, além de agradecer a oferta de um termómetro capaz de medir a febre do disparate que me levou a escrever este post….

quinta-feira, novembro 23, 2006

Temos Rei!

Em entrevista à Visão, D. Duarte oferece uma das visões mais lúcidas e inteligentes que já li. Em resposta à pergunta:

«Se, como rei, tivesse poderes similares aos do Presidente da República, convocaria o referendo do aborto?»

respondeu:

«Convocaria, se constitucionalmente obrigado. Mas talvez fizesse como o monarca da Bélgica, que abdicou por um dia, deixando o Parlamento resolver as coisas. Não concordo com um referendo sobre o aborto, como não concordaria com um referendo sobre a pena de morte. O que me preocupa mais, neste referendo, é que se trata, não de DESPENALIZAR, mas de LEGALIZAR, tendo como única base a vontade da mãe, sem que se tenha de invocar motivos de saúde ou outros, de força maior. É uma iniciativa de puros contornos ideológicos»

Parabéns! Nestas alturas até me apetece gritar: «Viva o Rei»...

sábado, novembro 18, 2006

Confirma-se...

... o primeiro casamento homossexual em Portugal entre Belém e S. Bento. A relação, essa, tem tudo para durar: confiança, muito diálogo, consultas permanentes e a firme intenção de que se mantenha estável e, se possível, discreta.
Os frutos dessa relação espera-se que sejam mais recomendáveis do que parecem prometer; sabe-se, contudo, que ambos têm como principal objectivo abortar o défice que teima em vingar tal erva daninha...
As únicas dúvidas que parecem existir, prendem-se, afinal, com quem assumirá a figura de «cabeça de casal»...

quarta-feira, novembro 15, 2006

Exemplos da evolução da sociedade:

— Muitos países equacionam o regresso da pena de morte
— Na Holanda foi criado o primeiro partido declaradamente pedófilo que defende não apenas a pornografia infantil como as relações sexuais entre adultos e crianças
— O consumo de droga aumenta na Europa e aumentam os defensores da descriminalização do seu consumo; em contrapartida, contra os fumadores tradicionais cresce a perseguição...
— Pretende-se defender a liberdade de escolha e de actuação descriminalizando não apenas o uso de drogas, a prática do aborto, a redução do limite de idade para ser julgado um acto de pedofilia, etc, etc, etc, mas cada vez somos mais vigiados nas práticas, o que dizemos e escrevemos, nesta verdadeira paranóia anti-terrorista, com câmaras por todo o lado, restrições à circulação e ao transporte de objectos pessoais, etc, etc, etc...
Caramba! Vou emigrar para Marte!

Confesso: não entendo!

Se o motivo porque o PS e os defensores do sim ao referendo é uma questão, sei lá, de «saúde pública», de «consciência» (esta é boa!), «porque-toda-a-gente-sabe-que-há-e-não-adianta-esconder», de «injustiça», de «descriminação», de «injustiça social» e uma série de outros argumentos que já ouvi e li, porque raio também não se descriminaliza e se regula a actividade da prostituição?
Afinal, todos os mesmos «argumentos» servem...
E, caramba, se isso acontecer, também vai ser necessário um referendo?

Nota de Rodapé...

É engraçado... mas não tem graça nenhuma.
Anda por aí uma campanha «Eu vou ser o último (médico, arquitecto, oceanógrafo, etc...) Português»...
Não tem nada a ver, pois não?
Bem me parecia...

A propósito...

... do lançamento do seu livro, Santana Lopes referia (e bem o que é para admirar!...), a estranheza das razões porque o navio do aborto não tinha voltado a Portugal no governo do sr. Sócrates.
Na altura o caso provocou um autêntico «sururu» e quase gerou uma crise institucional.
Em contrapartida, junto à fronteira, já se devem aprestar alguns camiões com material para as clínicas espanholas começarem a funcionar mal o possam. É que é preferível trazer de lá o material; afinal o IVA sempre é mais baixo!

A grande dúvida!

Se o não ao referendo for maioritário e vinculativo a dúvida é saber quanto tempo demorarão os senhores políticos a voltar à carga e pretenderem mudar a lei.
Pelo contrário, se vencer o sim, mesmo que não vinculativo, já se percebeu que arranjarão maneira de o fazer.
Enfim... negócios, são negócios não é?

Só se...

A verdade é que o sr. Sócrates —é engraçada a ironia; mas a mãe de Sócrates, o filósofo grego era parteira... — e o seu governo sabem fazer contas.
É muito simples: ao querer tanto facilitar o aborto aos mais pobres — aqueles que não têm dinheiro para ir a Espanha, como se diz — mata dois coelhos (e nunca a expressão soou tão mal...) de uma cajadada. É que sabendo que pobre contribui pouco e gasta muito ao Estado, diminui as despesas; por outro lado ajuda a diminuir os índices de pobreza!
Ao permitir a abertura de clínicas especializadas em Portugal, espera arrecadar mais impostos; É que as «parteiras-de- vão-de-escada», não cobram IVA como se percebe. Esquece-se é que muitos médicos, de outras especialidades, também se furtam ao mesmo...
Pelo sim, pelo não, foi já subindo as taxas moderadoras nos serviços de saúde. Será que também, neste caso, se aplica a expressão «disciplinar os recursos e racionalizar os serviços»?
E, já agora, dado que segundo o sr. Ministro da Saúde, os milhões encaixados com as taxas «permitirão tratar dois mil novos casos de cancro», será que está a pensar também nos casos em que o mesmo aparece no útero ou nos ovários, decorrente de abortos consecutivos? Se assim for até se entende...
O que não se entende é que as mesmas mulheres, depois, tenham que esperar meses ou anos até serem operadas, quando foi tão rápido resolverem o dilema que provocou a «tragédia»...
Já agora, e só para fechar...
Sócrates, o grego, morreu envenenado... e tinha consciência da sua própria ignorância!
«Só sei que nada sei»!

Também não percebo...

... os argumentos dos que defendem que a despenalização do aborto é fruto da evolução da sociedade.
Julgava que evolução era criar condições para que esses casos não tivessem razão para acontecer.
Curiosamente os que defendem o «sim» ao referendo, são os mesmos que combatem pelo não à pena de morte.
A probabilidade de no segundo caso morrer um inocente, é infinitamente menor ao primeiro.
Mas ninguém gosta de ver as coisas assim não é?

Não se percebe...

... porque há tantos homens aderentes ao não se o referendo ao aborto for avante!
Afinal, rematam os sarcásticos, tudo até pode ficar mais fácil para eles.
Não sei se há estatísticas em Portugal que «classifiquem» por tipo, escalão etário, etc, as mulheres que decidem abortar. Mas se pensarmos que não são poucos os casos em que a gravidez é gerada fora do casamento, entende-se o entusiasmo de alguns!
É triste e, se calhar, até é verdade!

Murro no estômago!

No outro dia, também na TV, um casal falava sobre a morte prematura da filha, com um tipo raro de cancro. E o Pai dizia mais ou menos isto: «Tragédia é perder um filho; tudo o mais importa pouco...»
Não vale a pena dizer mais nada.

Não se sabe...

... ainda o resultado da entrada em vigor (tardia!) da base de dados para a adopção de crianças em Portugal ou os efeitos da nova lei que pretendia agilizar o processo. Mas, como vem sendo habitual, depois do «fogo-de-artifício» o assunto parece ter ficado esquecido. As crianças que aguardam por uma nova família, provavelmente também! Até porque o problema se pode resolver mais facilmente evitando que nasçam...

Vamos premiar a coragem, caramba!

O Tribunal Constitucional anuncia hoje a sua decisão sobre a proposta de referendo ao aborto. Depois a «batata quente» passa para as mãos de Cavaco.
No outro dia, num programa de entretenimento, um casal jovem pedia apenas condições, no fundo apenas empregos estáveis, para poderem criar o filho que corajosamente resolveram ter.
E digo corajosamente porque, na realidade, coragem não é enjeitar responsabilidades, mas sim assumi-las!
Já agora sr. Presidente, não tarda é o 10 de Junho e eles bem mereciam uma medalha...

Vale a pena ver...

e ouvir...

http://www.youtube.com/watch?v=CkYkuZaq6Jw

terça-feira, novembro 07, 2006

A palhaçada do costume

Eu para aqui a ouvir a palhaçada do costume na AR, com interpelação para cá e para lá sobre taxas moderadoras no SNS e cresce-me a vontade de brincar com assuntos sérios…
Não deveria…
Eu sei, mas cada vez mais neste Portugal ou brincamos com as coisas sérias ou a depressão é cada vez maior… e daí, se calhar chegámos onde chegámos exactamente por andarmos sempre a brincar com as coisas sérias…
Mas adiante…
Eles lá vão discutindo — ou fazendo conta de que o fazem… — sobre as novas taxas moderadoras no SNS e o pessoal, como é habitual nesta «lusocom», mais interessado no espectáculo do que no conteúdo do que se diz. E eu para aqui a pensar de quanto serão as ditas para o aborto, se o referendo vingar…
Aliás, como é suposto que variem em função do rendimento, iremos ter abortos mais caros do que outros? E, já agora: se depois do utente pagar, a equipa médica se recusar a fazer o aborto por qualquer razão, será que a devolvem? E em tratando-se de um serviço numa clínica particular? Dá para descontar no IRS, por exemplo em despesas de saúde? Friso bem: de saúde! Ou será que se criará uma alínea especial chamada IVG… e se o pessoal se engana a preencher? Já agora... o estado comparticipa no privado? É que, por exemplo, os diabéticos, os hemofílicos e outros que viram reduzidas ou mesmo retiradas taxas de comparticipação nos medicamentos e tratamentos, eram capaz de gostar de saber…
Pensando bem, esta história da comparticipação é mesmo importante. Se o Estado não comparticipar, estou mesmo a ver a malta das clínicas privadas a perguntar: «¿Está con el recibo o fuera?»

sexta-feira, outubro 27, 2006

Como eles gostam de buzinar!


Os condutores portugueses — e falo apenas desses pois sou com eles que mais sofro... — têm uma relação fetiche com a buzina! Só pode ser assim, não perdendo a oportunidade de a utilizar, mal qualquer complicação de trânsito se levanta. Aliás; nem tal é preciso. Desconfio mesmo que alguns já têm a mãozinha preparada mal a luz verde se acende e têm um ou mais carros à sua frente...
Deve ser um qualquer trauma de infância, daqueles que gostam de prolongar depois do hiato que foi tocarem a campainha no triciclo ou na bicicleta, até mesmo às campainhas das portas só para chatear...
Se fosse um daqueles sociólogos que volta e meia aparecem na televisão a revelarem explicações absurdas para coisas simples, diria mesmo que era uma coisa primitiva, que permanece ainda nos seus genes. São descendentes directos do homem das cavernas que não prescindiam do corno a tiracolo para volta e meia puderem assoprar... quanto mais não fosse quando se cruzavam uns com os outros, ou transpunham, em fila, apertados desfiladeiros e o da frente resolvia parar para satisfazer uma qualquer necessidade fisiológica...
E das duas uma: ou já não transportam o corno ou o que têm não faz barulho… ou não serve para assoprar. Os mais fanáticos, aqueles que não perdem um «buzinão» mesmo que não tenham a ver directamente com o assunto, são também os que mais vincam a sua faceta primitiva ao instalarem nos seus automóveis buzinas com o som de uma vaca, por exemplo… dando logo a vontade de os mandar pastar!
Há também os mais elaborados que dispõe de buzinas com outros sons ou mesmo voz gravada, geralmente a mandarem-nos aquela parte; geralmente são os cobardes ou os esperançosos que também colam no vidro traseiro do carro um autocolante a dizer «Traseiro virgem; Não amachucar». Bem podem ter esperança.
Os camionistas são uma classe à parte; esses habitualmente têm uma vida entediada e o simples facto de puderem ter uma oportunidade para tocarem a potente buzina do camião (e a maioria das vezes não têm…), os torna mais homenzinhos e os faz esquecerem que só não podem puxar o banco mais para a frente para chegar aos pedais porque a barriga não lhes permite.
No fundo, no fundo, acho mesmo é que muitos gostariam é de ser condutores de ambulância, de bombeiros ou da polícia. E se aos primeiros até desculpo pois na esmagadora maioria das vezes até se trata realmente de uma emergência, já os últimos também têm o hábito de valerem a sua autoridade só por uma mera questão de exibicionismo. É vê-los…
Mas sem fazer desvios à questão do apito (uí… e por apito, então, o desvio era ainda maior…), ou os senhores que tanto gostam de usar a buzina têm uma frustração com falta de autoridade ou então é uma coisa fálica: na impossibilidade de continuarem a usar a boca para assoprar o corno, passaram a utilizar a mão para afagar o claxon…
Vá lá saber-se!...

quarta-feira, outubro 25, 2006

Uma rematada hipocrisia!

Estamos prestes a assistir em Portugal a mais um episódio destinado a distrair as «massas». Segundo parece trata-se de levar a efeito mais uma das «promessas» do programa eleitoral do governo chefiado pelo sr. Sócrates.

Ora se a iniciativa tomada pela Assembleia da República for aprovada pelo sr. Presidente da República, assistiremos, no início do próximo ano, à realização de um referendo que propõe a despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas.

Antes de mais, e ainda que isso possa não interessar a mais ninguém do que à minha própria pessoa, irei votar NÃO!

E farei com a consciência de que o que está em causa não é um direito mas sim o resultado de uma rematada hipocrisia:

* Durante uns tempos o País andará dividido e distraído do que realmente é importante, o actual estado da educação, do emprego, da segurança social, das despesas públicas e da crescente diminuição do poder de compra dos portugueses.

* Não entendo como numa altura em que se pretendem controlar as despesas públicas, se pretende despender verbas para a realização do acto.

* Não entendo a razão porque não se invista e se crie uma politica verdadeiramente eficaz que evite que se criem situações que levem ao IVG. Afinal há consultas de planeamento familiar nos centros de saúde há décadas — e para quem não sabe tanto atende casais como não casais, indivíduos de qualquer idade e não é obrigatório que a consulta se realize na área de residência —, o uso e venda de preservativos e outros anticoncepcionais está mais do que divulgado e os primeiros podem ser comprados facilmente em qualquer lugar.E, caramba, há SIDA, há hepatite e há uma série de complicações que se podem «apanhar»!...

* De uma vez por toda fale-se a sério, com conhecimento e sem pudores, de sexo: o sexo enquanto parte integrante do ser humano, o sexo enquanto uma atitude consciente e responsável — ainda que toda a sua componente apaixonada e impulsiva —, mas também o sexo na sua vertente fisiológica, com todas as suas implicações e consequências. Em casa, nas escolas, esqueça-se de vez os «velhos do Restelo» que acham que educação sexual nas escolas é ensinar os alunos a fazer sexo. Infelizmente eles já julgam que sabem! Mas não sabem realmente como funciona o aparelho reprodutor do homem e da mulher, não sabem de afectos e, infelizmente, não sabem ou não dão a devida importância a coisas tão importantes como as DST.

* Não entendo o critério de, por exemplo, uma operação ao cancro da mama poder demorar um ano por falta de capacidade dos serviços de saúde, a rebentar pelas costuras, e se pretender que os hospitais públicos criem instalações, dediquem e formem pessoal para levar a efeito a interrupção.

* Também não percebo como se poderá obrigar os médicos a violarem a sua própria consciência — e ao que parece o seu próprio código deontológico — ao realizarem a intervenção. Ainda que se saiba que, muito provavelmente, muitos se negarão apenas com o fito de as encaminharem para as clínicas privadas onde exercem, um pouco a exemplo de certos ginecologistas que encaminham as parturientes para os hospitais públicos onde também trabalham — quer para a realização de exames, quer mesmo para acompanhamento do parto — depois de as terem atendido em consultas principescamente pagas nos seus consultórios privados. Eu sei do que falo!

* Faz-me confusão perceber porque é que, tendo a Espanha uma lei tão semelhante à nossa, se colocam tantos problemas em Portugal

Já não estranho o interesse de tantas clínicas privadas estrangeiras e mesmo de algumas portuguesas, estarem a preparar-se para abrir centros especializados em Portugal;

Porque, no fundo, o que está aqui em causa é um imenso negócio. Um negócio com o qual muitos esperam lucrar, provavelmente os mesmos que hoje tanto se afadigam a gritar alto e a bom vento, que Portugal é um País retrógrado com a actual lei e que, por isso, há que mudar.

É claro que ninguém, em sã consciência, acha bem ver uma mulher atrás das grades por ter feito um aborto. Eu pelo menos penso assim, considerando o próprio aborto em si — e tudo o que aí levou — penalização mais do que suficiente. Mas, para isso, bastava mudar a lei na AR, um trabalho pelo qual os senhores deputados foram eleitos e são pagos um pouco por todos nós.

Posto tudo isto, gostaria ainda que me explicassem mais uma ou duas coisitas…

Não se perspectivando capacidade dos actuais centros públicos de saúde e adivinhando-se a crescente objecção de consciência da parte dos especialistas da área, como irão fazer as pessoas de menores posses? Não nos esqueçamos que estamos a falar de um período curto para a decisão… Irá o estado comparticipar as intervenções em clínicas privadas? Irá o Governo abrir mão de verbas para a criação de centros públicos de aborto ao lado das incineradoras? Irá o Governo impor aos médicos e enfermeiras a prática? E, fazendo isto, como irá esse próprio estado explicar às pessoas que esperam meses e anos angustiados por uma intervenção cirúrgica de que depende a sua própria vida?

E depois… não sejamos hipócritas! Quem não conseguir nos centros públicos — até por uma questão de exposição — continuará a recorrer às parteiras de ocasião que, quanto muito, terão que rever os seus preços face à abertura das clínicas privadas.

E, quanto a estas últimas, meus senhores! Já imaginaram o corrupio, à porta, de jornalistas das revistas e jornais sensacionalistas a ver quem entra? Acham mesmo que muitos deixarão de ir ao estrangeiro? Alguém está a ver a sra. Deputada ou outra personalidade pública — que agora tanto se afadigam a mostrar o seu piercing no umbigo e a gritar que são donas da sua barriguinha —, a recorrer manifestamente aos serviços? Duvido… duvido muito!

Por isso, a quem tudo isto interessa? Certamente haverá clientes, muito provavelmente muitos dos que hoje recorrem às clínicas espanholas. A necessidade de realizar um aborto é algo que, infelizmente, continuará a haver por mais consciência e educação que se promova. Infelizmente, repito.

E infelizmente, até, porque cada vez mais temos uma população envelhecida, porque cada vez mais os partos que se realizam em Portugal são de pais estrangeiros e, sobretudo, porque, cada vez menos, os portugueses são desincentivamos a terem filhos ou mais filhos. E esse investimento sim, é que deveria ser feito! Para bem do nosso futuro e para bem da Nação!

sexta-feira, setembro 22, 2006

Hoje vi um Arco Íris!


Fui ao banco e demorei menos tempo do que esperava; à saída, quando já abria a porta, um casal preparava-se para entrar. Dei-lhes passagem e desataram a perguntar-me coisas sobre o crédito habitação. Informei-lhes que não era empregado bancário — nem sequer cliente — e olharam-me espantados.
Definitivamente estamos a ficar pouco habituados à educação ou a meros gestos de cortesia...
Quem os tem começa a correr o risco de, ou parecer fraco, tímido, procurar um engate ou simplesmente parecer parvo. É triste...
O dia não tem sido particularmente fácil. São as buzinas freneticamente pressionadas por irados condutores, o trabalho, questões pessoais mas... hoje vi um Arco-íris de manhã quando passava a ponte.

E nesse momento, nessa oferta que a natureza criara especialmente para mim e para todos quantos tiveram a oportunidade de o apreciar, percebi que hoje tinha que ser um belo dia. Por isso tive tempo para me abstrair de tudo e me concentrar nas pequenas coisas. Encontrei tempo para mim. Deixei propositadamente as carruagens do metro partirem enquanto me concentrava no desafio de resolver um intrincado problema de Sudoku. E consegui!
Senti-me recompensado. Senti também, sem o querer, um pequeno travo de vingança por ter conseguido enganar o tempo que nos prende frenética e vertiginosamente às actividades do dia-a-dia.
Fiz o que queria, e deixei por fazer o que posso adiar; mas, certamente, noutra altura, quereria resolver, despachar tudo. Hoje não! Vi um Arco-íris. E não irei defraudar a vontade que nessa altura senti!
Nem deixar que algo me aborreça. Mas, pelo sim, pelo não, vou já bater três vezes na madeira…

Achei!...

Descobri a única razão para este dia!
Bolas! Vejo as notícias e oiço as associações ambientalistas falarem do pouco impacto ou das inexistentes consequências que esta palhaçada tem para o ambiente ou para a consciencialização das pessoas...
E cheguei à única conclusão plausível: é para nos lembrarem que estamos na Europa!!!!!...
É que podemos não ter os mesmos salários (alguns pelo menos...), não temos a mesma produtividade, assistência social, educação, cultura, etc., etc.... mas porra!: Temos um dia EUROPEU sem carros!

É só folclore…

Esta palhaçada do «Dia Europeu sem Carros» que nem todas as cidades ligam e que para uns é ao domingo para outros qualquer dia serve, não passa de uma rematada palhaçada. Hoje Lisboa não apenas não ficou com menos automóveis a circular, como o facto de algumas ruas terem sido fechadas, acabou por provocar, em algumas zonas, monumentais engarrafamentos.
Os polícias na rua puderam dar larga à sua vontade de autoridade ou de autoritarismo — engraçado como nestas alturas sobra sempre polícia, quando realmente são precisos escasseiam… —, os engarrafamentos geraram situações de «pára-arranca» que certamente aumentaram as emissões de poluentes e, quanto a efeitos práticos, tirando um ou outro tão consciencioso quanto assustado cidadão ziguezagueando entre irritados condutores — e tragando volumosas quantidades de gás emitidos pelos escapes dos carros que circulavam —, nada se viu.
Mas, aderentes ao folclore, algumas rádios e televisões esforçavam-se por transmitir um acontecimento abortado ainda antes de o ser, ao qual nem S. Pedro quis ajudar. Nem S. Pedro, nem as autoridades competentes, porque, se o objectivo era realmente convencer os utentes a não circularem de automóvel em Lisboa, por exemplo, havia que proibir, repito proibir e aplicar coimas aos prevaricadores — porque parece que só assim nós, portugueses «vamos lá»… — e tratar de encontrar soluções para quem entra de carro em Lisboa. Essas soluções passariam por parques automóveis à entrada da cidade, devidamente sinalizados e anunciados com a devida antecedência, e pela criação de uma rede eficaz e convincente de transportes alternativos, reais e não virtuais como costuma acontecer.
Mas claro que percebemos que isso dava imenso trabalho e, obviamente, há coisas mais importantes para resolver. Agora por que raio é que temos nós de ter a maçada de aturar esta rematada farsa?

terça-feira, setembro 12, 2006

O dia seguinte




Procurei fugir aos clichés de falar sobre o aniversário do 11 de Setembro, ser mais um a lamentar as mortes que levaram a esse dia e daí advieram, ou simplesmente referir sentimentos que sobrevieram ao olharmos para o monte de destroços, para as figuras empoeiradas que deles saíam, milagrosamente ainda com vida, ou até as faces de horror, pânico e incredulidade de quem presenciou a tragédia.
Também não irei falar de política, do conflito de sistemas, pensamentos, credos e modos de olhar a vida, o mundo e a própria morte, que existe entre o Ocidente, dito «civilizado» e um Oriente árabe dito «fanático». Não quero defender polémicas, como não quero entrar por teorias da conspiração ou apontar responsabilidades a um ou a outro lado, até porque os «lados» em confronto são também eles difusos, vastos e nem sempre bem identificados.
Assisti pela TV a alguns dos inúmeros documentários com que nos brindaram, uma panóplia vasta de maneiras de olhar e relatar o que nesse dia se passou e de como o mundo, mas sobretudo os americanos, mudaram a partir de 11 de Setembro de 2001, para já não se espantar tanto com Atocha ou com o atentado no metro de Londres.
Vivemos inevitavelmente dias de medo, consciente ou inconsciente, revelado ou escondido pela vergonha de o aceitarmos, de nos sentirmos condicionados, espreitando receosos sempre que algo sai fora da rotina, do «normal», nos inspira desconfiança e nos leva… ao medo de que algo de terrível nos aconteça. Vivemos, felizmente, num país onde isso não se pressente tanto, acreditamos até que se calhar «eles» nem sabem onde fica Portugal (ou mesmo que julguem que «somos» Espanha e como lá já «molharam a sopa»…), acabando por olhar com alguma incredulidade termos polícia armada até aos dentes em alguns locais, de conviver e aceitar que seja posta alguma restrição nos aeroportos, e, se nos descuidarmos, sermos olhados como potenciais homicidas/suicidas se tomarmos uma reacção mais brusca ou nos passearmos de mochila às costas em algumas capitais europeias.
Era isso, criar terror e desconfiança no Ocidente, que os atentados pretendiam e conseguiram. Restringiram a nossa liberdade, a liberdade de que o Ocidente tanto se orgulha e defende em contraponto ao que se passa «do outro lado» e conseguiram, sobretudo, outro feito: dividir o Ocidente, dividir a Europa e os Estados Unidos, dividir as Nações mais preocupadas com os seus interesses Geo-estratégicos, demonstrando a fragilidade da «nossa» civilização, cada dia mais oca de valores e de unidade, preocupada com conveniências e interesses próprios, tal Império que se desmorona por falta de cultura e educação, por falta de credo e amor nos seus valores, por estupidez, por mesquinhez, por ganâncias absurdas e imerso em ócio e futilidades em demasia.
Traçado este quadro negro — e nem era disso que me propunha falar —, um contraponto de esperança veio-me ao presenciar as imagens dos momentos, dos dias que se seguiram ao 11 de Setembro. Ao verificar como todos — brancos, negros, asiáticos, árabes, cubanos, japoneses —, inimigos de ontem e supostamente de agora, todos, se uniam num esforço e imenso e diversificado na procura, na busca, no resgate de corpos, vivos, feridos ou mortos, no choro, na consternação, na incredulidade…
Os homens e mulheres que, muitos deles, numa situação completamente diversa, seriam capazes de pegar em armas para se matarem, por acreditarem que o fariam por algo correcto ou levados a isso por meia dúzia de dementes ambiciosos, gananciosos ou simplesmente lunáticos, estavam ali, descomprometidos, desinteressados e preocupados em ajudar.
Confesso que via as imagens e ouvia os testemunhos mas na minha cabeça bailavam os acordes do «Imagine» de John Lennon

Imagine there's no countries,
It isnt hard to do,
Nothing to kill or die for,
No religion too,
Imagine all the people
living life in peace...

também ele assassinado por um louco por razões que ninguém consegue entender.
Mas ao olhar e desejar ser um deles, pensei como seria bom imaginar um mundo tão simples quanto o cantado por Lennon. Um mundo que todos nós desejaríamos, um mundo que todos nós queremos, desde que possamos continuar a invejar o vizinho, a destilar raivas sobre o clube de futebol do parceiro, a tramar o colega de trabalho, e a poder, volta e meia, portarmo-nos como seres violentos e irracionais.
O ser humano é deveras complexo sem dúvida. Mas posto isto, relido o que escrevi, uma imensa dúvida me assola: como será ele melhor, o ser humano? Despido de valores, fútil e dividido em credos, ou fanaticamente religioso, crente e devoto em ideais que, na realidade, nem sequer existem ou são diametralmente opostos aos que constam nos textos sagrados?

segunda-feira, setembro 11, 2006

Esquisso


Por vezes gosto de regressar aos «meus» clássicos para lembrar verdades.
Ajuda...

«Não há forma nenhuma de se verificar qual das decisões é melhor, porque não há comparação possível. Tudo se vive imediatamente pela primeira vez sem preparação. Como se um actor entrasse em cena sem nunca ter ensaido. Mas o que vale a vida se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É o que faz com que a vida pareça sempre um esquisso.Mas nem mesmo «esquisso» é a palavra certa, porque um esquisso é sempre um esboço de alguma coisa, enquanto que o esquisso que a nossa vida é, não é esquisso de nada, é um esboço sem quadro. Tomas repete em silêncio o provérbio alemão «einmal ist keinmal», uma vez não conta, uma vez é nunca. Não poder viver senão uma vida é pura e simplesmente como não viver.»

— in «A Insustentável Leveza do Ser», Milan Kundera

Não temos tempo...


Vivemos na era do imediatismo, do sensacionalismo, da necessidade da diferença sem que tenhamos coragem para a assumir ou façamos dela mero instrumento de exibicionismo, mas também da agressão encapotada e constante à forma individual de sentirmos e olharmos o mundo.
Diariamente somos agredidos por coisas de que não gostamos e à quais parece que somos «obrigados» a reagir de imediato. De imediato, sempre, porque parece que o tempo voa, as coisas passam e corremos o risco de parecer atrasados se temos a leviandade de nos detemos para pensar.
Caramba! É sempre tudo imediato! Imediato e efémero. Só não passa o que nos magoa nesta incessante teoria da vitimação…
Quantas vezes perdemos o hábito de ouvir e meditar nas palavras que escutamos, de nos determos perante um gesto, palavras e movimentos que, nos parecendo agressões, não passam muitas vezes de meros grito de alerta?
E quantas vezes encontramos coragem para assumir a custa e a responsabilidade dos nossos actos? Quantas vezes, custando muito eu sei, «damos o braço a torcer» reconhecendo que errámos, que erramos e que erraremos sempre porque não somos seres perfeitos nem máquinas programadas, temos sentimentos, temos vontades, temos gostos e temos necessariamente maneiras diferentes de encarar cada coisa... mas é tão mais fácil alinharmos pelo que nos impõem, pelo que nos oferecem, por essa identidade colectiva a que uns chamam «modas e tendências», outros globalização.
Temos vergonha do remorso porque ele nos outorga a culpa ou a assumpção da responsabilidade, sendo no entanto o remorso um dos sentimentos mais belos quando nos move à correcção e ao conserto dos erros…
E onde nos leva todo este imediatismo?
Por causa dele, hoje em dia muitas relações são fugazes. De pequeninos somos habituados a comprar as coisas prontas; quando se estraga, quando já não nos serve… deita-se fora e compra-se novo. E, depois, não temos tempo! Não há tempo, numa montanha de actividades e interesses para nos distrair, acabamos por aplicar às amizades e aos relacionamentos em geral o mesmo princípio…
Tudo fugaz e efémero… não temos tempo. Ou não temos vida?!

terça-feira, setembro 05, 2006

Diálogo de barcos...


— «Porque não navegas tu?», pergunta o barco preso ao barco livre
— «Porque te venho salvar mal a maré suba. Porque amo a liberdade de poder vogar sem rumo ao sabor da corrente»...
— «Mas se navegas ao sabor da corrente, que liberdade é a tua?»

terça-feira, agosto 22, 2006

E 'tá tudo dito!

Do «Verão Quente» do último post, para já, só os incêndios. Para o resto os indicios permanecem acesos, ainda que o preço do petróleo tenha descido ligeiramente...
'Tá visto que andar de avião tem sido uma chatice nos últimos tempos e quanto ao comboio...
Nada como andar «à pata» que sai mais barato e faz bem à saúde!
Adiante! Fã da revista «Xis» tropecei numa frase da última num belo texto da autoria de Ana Castro: «...tudo é passível de ser aprendido mediante estimulação. Inversamente, o que não se estimula, como é o caso da vivência de emoções e da aprendizagem das relações, acaba por ser bloqueado ou negado...».
Cá vai o recado...

sexta-feira, agosto 04, 2006

Calor!...


Vou para férias! Não serão longas mas certamente bem aproveitadas. Gozadas como se diz... Vou esquecer os dias deste País ou, se calhar, durante alguns momentos, este País a dias! Não sei não... mas «cheira-me» que quando este período acabar, quando (quase) todos voltarem depois de «terem ido a banhos» (epá, tou cheio de lugares comuns...) vamos ter um resto de «Verão Quente»!
Quando o portuga regressar depois de ter contraído mais uns créditos para ter podido ir (com p…) e descobrir que não apenas o preço do petróleo não desceu (e foi tudo atrás… a subir), como os juros estão cada vez mais caros… ai, ai…
Cheira-me a esturro…
Espero que não. Espero que mais nenhum camone se lembre que tem uma fábrica em Portugal bem jeitosa para ser encerrada e nós pagarmos com a incompetência lá na terra deles ou puderem ir explorar os desgraçados dos chinocas que trabalham as 24 horas seguidas a troco de uma malga de arroz.
Enfim… até me apetece escrever à Verão, parece mesmo que já me sinto de férias para falar verdade. E assim sendo... pensamento positivo e toca a fazer figas com os dedos!...

quinta-feira, agosto 03, 2006

As ironias do destino


Há algum tempo que não venho cá, distraído com as férias, a antecipação dos trabalhos que tenho que deixar feitos, perdido com o calor e o sol que chama para a praia e acentua a preguiça. Hoje, por acaso, o dia até nem nasceu prometedor, se calhar a preparar-me a semana que vem e a não deixar-me muitas expectativas...
Enfim...
Entre o que escrevi, conta-se a história do nascimento de um carro que eu gosto muito e, como eu, milhões e milhões de pessoas em todo o Mundo. Um carro idolatrado, amado, desejado, intemporal e genial e, como todos os génios (mesmo sendo carro) com as suas manias...
Falo do VW, o beetle original, o carocha, tão versátil que a partir dele já se construiu todo o tipo de viaturas, sejam eles buggys, jipes, anfíbio, furgões, desportivos, limusinas, eu sei lá... Um daqueles carros em que tanto fica bem o snobe de casaca, como o veraneante de fato de banho... Conhecem outro carro assim?????
A ironia é que este carro foi concebido porque um ditador doente e megalómano (como todos, de resto...) quiseram fazer dele a obra e símbolo de um regime. E encontrou outro génio, este mais pacífico felizmente, que respirava mecânica, um genuíno autodidacta que aprendia fazendo e inventado, deixando um legado que ainda hoje perdura. Esse homem foi Ferdinand Porsche, que como Henry Ford acreditava na produção de carros em massa e, já na altura, na democratização do uso do automóvel.
Mas adiante…
Hitler pediu a Porsche um carro barato e fiável, fácil de construir e de manter. O objectivo era demonstrar a capacidade de uma Alemanha em recuperação económica pós primeira guerra, gerar empregos e proporcionar meio de transporte aos alemães menos abonados, e, naturalmente, fazer era fazer dele objecto de propaganda do regime.
Para Porsche não foi difícil obedecer aos requisitos técnicos exigidos — afinal até já tinha concebido antes protótipos que correspondiam ao desejado —, mais difícil foi conseguir que o modelo fosse vendido pelos tais 1000 marcos que o ditador impunha.
E não tarda estou a contar a história do carro…
(Mas quem quiser pode ver em http://www.cockpitnanet.blogspot.com «FERDINAND PORSCHE: Um homem e o seu sonho»
Só para dizer que este foi um carro nascido em plena preparação para o maior conflito bélico que o mundo assistiu. Ironicamente nenhum alemão a que se destinava, beneficiou dele durante o regime nazi. As poucas versões civis foram destinadas a membros do partido ou oficiais do exército, a paradas do governo. A produção, durante os anos do conflito, foi orientada para viaturas militares, os pequenos anfíbios e jipes que tantas dores de cabeça provocaram às tropas aliadas que combatiam Rommel no norte de África.
O VW nasceu durante a guerra, serviu na guerra e para a guerra e, ironia do destino, acabaria por se transformar num dos símbolos da geração pacifista dos anos 60/70, os hippies. Como Hitler um dia desejou, serviu para o povo, o alemão (ajudando decisivamente o País a recuperar economicamente da 2.ª Grande Guerra e transformar-se na potência que é hoje) e para o povo de todo o mundo, os menos abonados que o compravam em segunda, terceira e não sei quantas mãos, como primeiro carro, como carro de família, como viatura de trabalho, para as corridas, para o lazer. O VW esteve, e continua a estar em todas.
Transformou-se num carro de culto, amado, odiado, desejado, invejado, surpreendente nas suas múltiplas versatilidades. Está presente em todo o mundo, fez todas as rotas, mesmo as mais difíceis e exigentes do ponto de vista mecânico e, durante muitos anos, foi a sua base mecânica que serviu à VW e a muitos outros carroçadores, para construir novos modelos.
Este é o meu modesto contributo ao carro mais construído de sempre. O carro que um dia ainda hei-de ter!

quinta-feira, julho 20, 2006

Que Sera Sera... (*)

Enigmático este homem! De uma energia inesgotável. Inteligente. Ou maquiavélico como alguns acusam. De todo o modo, não se pode culpá-lo da falta de exibição de medidas, mesmo se algumas ainda não passam de intenções…
No que até agora o governo se tem mostrado mais eficaz é na apresentação de alterações que vão contra os «poderes e regalias estabelecidos» e que colocam em polvorosa os mais diversos sectores. Em catadupa. Uma medida a seguir à outra, mal deixando respirar os respectivos sindicatos ou associações. Quando protestam, quando saem à rua, o mais natural é o governo já ter anunciado qualquer outra iniciativa «contra» uma classe profissional diferente… o que faz passar despercebido, esbate e quase esgota o protesto.
Se o País e os portugueses estão melhores é discutível. Se poderia estar pior… bem, aí é ainda mais discutível, pois uma das coisas que este governo sabe fazer melhor é publicidade e… lá está, nos dias que correm vai valendo mais parecer do que ser!
Se há menos desemprego… se a economia está melhor… se Portugal avança… se vamos viver melhor daqui para a frente… quem sabe? Por enquanto temos o futebol, as férias à porta, quando «a coisa aperta» lá vem uma medida de agrado…
Para já a maioria dos portugueses dá-lhe o benefício da dúvida. Até porque, olhando para as alternativas, a dita oposição, não há muitas dúvidas quanto ao benefício…


(*) ...what ever will be, will be
The future`s not ours to see.
Que Sera Sera
What will be, will be

quarta-feira, julho 19, 2006

«É P’ró Menino e P’rá Menina!»

Hoje em dia já nada se vende por si só! Vamos ao banco e tentam impingir-nos com um serviço de jantar em fina porcelana ou uma colecção de copos em cristal com a oferta de talheres em prata, vamos aos correios e, enquanto esperamos, sempre podemos ir folheando um dos livros à venda, até sermos atendidos e nos tentarem convencer das virtudes de um jogo infantil, passamos por um quiosque de jornais e o espaço mais parece uma barraca de praia com toalhas, sacolas, chinelos e raquetes…
Claro que os bancos o que nos querem «vender» é o crédito. Que diversificando de tal modo a sua oferta, que não andará longe o dia em que os correios se pareçam com as lojas dos chinocas. E que os jornais e revistas, o que querem, é convencer e fidelizar compradores
(não leitores…)
durante uns tempos, enquanto decorre a promoção do jogo, da colecção de carrinhos e até, lá está… do conjunto de talheres em prata fina.
(Às vezes até dou por mim a pensar no trabalho que têm os senhores e senhoras dos quiosques — talvez por isso estejam sempre de mau humor, desconfiados de que levamos mais alguma coisa sem pagar... —, na labuta que deve ser contabilizar uma panóplia tão grande de produtos… Contabilizar sobretudo as perdas, já imaginaram como naquela maralha de coisas expostas e dispersas pelos passeios é fácil alguém passar e levar sem pagar?)
Que três pacotes de manteiga tragam como oferta uma linda manteigueira em plástico inquebrável… ainda vá. Que os iogurtes ofereçam uma bolsa térmica… é compreensível. Afinal, não é novidade os cereais, farinhas, cacau em pó ou sabão para a máquina, volta não volta, oferecerem-nos brinquedos, cromos

(a propósito: presumo que por causa de uma personagem dos «Morangos com Açúcar», ouvi recentemente duas adolescentes discutirem o estado da sua colecção de «crómios» e creio que não se referissem a namorados…),
molas para a roupa e sei lá que mais brindes no seu interior!
Mas porra! Somos um povo culto e avançado! Agora os iogurtes oferecem livros! É de saudar uma campanha destas, com os índices de leitura que temos e metade da população a desculpar-se com o preço dos mesmos.
Porque, como não lemos, os jornais oferecem DVD’s, que sempre é mais fácil ver
(se não tiver legendas, claro…),
do que ler. Oferecer é como quem diz… É mais um negócio paralelo. As editoras já não enchem armazéns com sobras, mas com as promoções que restaram. Podem servir para uma nova campanha daqui a um ano ou dois que já ninguém se lembra.
Mas voltemos aos quiosques. Antigamente tínhamos as publicações, obviamente, o tabaco, as pastilhas e outras guloseimas. Agora, até conseguirmos «sacar» aquela revista que pretendemos — geralmente enfiada num saco ou presa a uma imensa cartolina onde se «cola» uma qualquer «oferta» que só custa mais «meia-dúzia» de euros —, temos que «navegar» entre um mar de toalhas e sacolas de praia, volumosos cartões que anunciam os «clássicos de autores portugueses», kits de aviões ou de barcos, colecções de casinhas de bonecas, partes do corpo humano e sei lá que mais! Quando um gesto menos cuidado da nossa parte não faz desmoronar a pilha de DVD’s…
Por isso, até há publicações que esgotam… Porque há mais público leitor? Não… porque aquela saída de praia é fashion… até traz a assinatura de um estilista famoso!

quarta-feira, junho 28, 2006

Acórdão em papel higiénico!


Este é um excerto de uma notícia do link anexo. Evitarei demasiados comentários, até pelo absurdo da decisão que fala por si:

«O Tribunal da Relação de Évora arquivou, em Dezembro do ano passado, um processo-crime contra um homem acusado de coacção sexual a uma menor de 14 anos. Tudo por entender que o pai da menor não tinha legitimidade para apresentar a queixa, visto não ter o poder paternal.» (!!!!!!!!!!)

E continua:

«Nos casos em que a ofendida é menor e tem de ser representada na queixa por um dos progenitores, que nunca contraíram casamento entre si e vivem separados, a pessoa que está em melhores condições para medir [. . .] tais considerações e consequências não é o progenitor ausente, que só está com a menor em alguns fins-de-semana, feriados, férias e festas, mas o progenitor presente no dia-a-dia da menor, que melhor a conhece e sabe o que mais lhe convém».

Esta última parte é gritante, sabendo-se que a esmagadora maioria das situações de assédio e abuso, ocorrem exactamente num meio próximo ou familiar. Ora isto significa que, um dos progenitores (geralmente o pai) que, por imposição legal, não conviva diariamente com a criança que é filho/a, segundo este julgamento, não está em situação de (melhor) conhecer ou de saber o «que mais lhe convém»...
E nem adianta pensar nos casos em que um dos progenitores (geralmente a mãe), comprometido na relação posterior ou coagido(a) de qualquer forma, oculta situações de abuso...

E, claro, temos o absurdo:

«A solução "não é assim tão destituída de fundamento como à primeira vista pode parecer". Lembram que se trata de um crime dependente de queixa (semi-público) e que "o pensamento legislativo" é o de dar a opção entre "a publicidade" do caso ou o "esquecimento e recato perante a ofensa recebida"».

Publicidade??????
Esquecimento e recato??????

É que não há palavras! Não há! Há indignação perante a estupidez, a tacanhez, a imbecilidade, a incompetência perante tanto disparate!
Independentemente do fundamento da queixa — não saber, ao certo, se houve delito, intenção ou meramente instinto provocatório ou vingativo de quem a apresentou —, independentemente de tudo, esta decisão que pode criar um grave precedente, este acordão é...
Isto é o reflexo da justiça e da legislação caduca que ainda impera.

Quanto ao segundo link... também fala por si!

http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=699527&div_id=291

http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?div_id=291&id=699542

sexta-feira, junho 16, 2006

Ora porra para estes gajos!




( Aviso: é claro que estas imagens não passam de uma manipulação, não é?!)
Há algum tempo que ando com vontade de escrever sobre esta história do holocausto não ter existido. Não percebi ainda muito bem porquê, mas é algo que me aflige, quando leio ou oiço, quando presencio afirmações de mentes imbecis que dizem ter como livro de cabeceira o «Mein Kaft» de Hitler, agora até outro ditador de pacotilha (mas perigoso… bem perigoso e como todos os ditadores, completamente demente!), que rege os destinos do Irão o vem afirmar com o único propósito de picar Israel.
Caramba! Também não concordo com muitas das políticas do Estado Israelita, também acho que muitas vezes exageram ao reagirem como animais acossados, mas, se pensarmos bem, é isso que os judeus foram uma grande parte das suas vidas, está-lhes na massa do sangue, e agora ainda mais num país completamente rodeado de indesejáveis vizinhos.
Mas adiante.
Isso não justifica, contudo, — nem isso nem qualquer outra coisa — que se tente passar uma esponja pela história. É verdade que os Romanos também cometeram as suas barbaridades, e muitos outros, antes e depois, fizeram o mesmo. E que essa imagem acabou por se esbater. Mas… ora bolas! Passou cerca de meio século! Não centenas de anos… Será assim tão curta a memória?
Que importa que tenham morrido cem ou seis milhões de judeus? A verdade é que morreram por motivos bárbaros e incompreensíveis, que se cometeram inúmeras atrocidades em nome do ideal da raça pura, e que, se calhar, se não fosse por causa da reacção de muitos outros que conseguiram escapar e que, na sombra, ou financiaram ou ajudaram a fornecer informações confidenciais, o decurso da guerra teria sido bem mais longo e penoso.
Que, por causa disso se tenha constituído o estado de Israel? Mas quem quis que assim fosse? Quem lhes entregou um território — ok, ok, sei que é lá que fica Jerusalém… — sabendo e utilizando-os como contraponto ao que já se adivinhava seria o curso da independência dos territórios vizinhos? Pois é…
Como disse, não se trata de defender Israel, os Judeus ou quem quer que seja. Agora que certos meninos, tão facilmente manipuláveis como a massa bronca alemã e italiana que constituiu o suporte dos respectivos regimes da altura, achem um imenso orgulho nos seus símbolos nazis… que raio! Mas aquilo é a nova moda gay? Se for terão um grande futuro. Pode ser que ainda possam ser úteis a algum novo Josef Mengele…
Saberão quem é? Ou será que também não existiu? Pelo caminho que as coisas estão a tomar ainda vamos descobrir que até era santo!

sexta-feira, junho 09, 2006

Assim se percebe o estado de impunidade...

O mesmo senhor padre que é acusado pelo Ministério Público no post anterior, durante uma entrevista a um jornalista da Antena 1, portanto na sua presença, deu uma bofetada na cara de um petiz.
Sem dissecar aqui as razões que o levaram a tal acto — e mantendo a presunção de inocência a que tem direito, até à decisão final dos tribunais —, para alguém que se encontra indiciado pela justiça por razões de violência, o facto de o ter feito na presença de um jornalista, portanto exterior à instituição, que ali se deslocara exactamente para apurar o que se estava a passar e lhe permitir que se explicasse, revela bem o estado de impunidade que o dito sr. padre julga possuir.
Não se sabe se, posteriormente, segundo os ensinamentos cristãos, a criança terá oferecido a outra face.
O que hoje se soube, contudo, é muito mais grave. Na Casa do Gaiato do Tojal, local onde também se denunciaram actos de violência que levaram o Patriarcado de Lisboa a assumir a sua direcção, foram encontradas drogas e armas.
Temos que convir que há muito pouco de cristão nisto tudo!

quinta-feira, junho 08, 2006

Quando a memória é curta…

O Diário de Notícias de hoje divulga que «o Ministério Público acusou o Director da Casa do Gaiato de Setúbal (CGS) da prática de maus tratos de crianças…», incorrendo «numa pena de prisão até 20 anos, caso venha a ser condenado em julgamento»
«Com o sacerdote foram igualmente acusados dois funcionários da instituição…», «por ofensas à integridade física dos miúdos».
Segundo apurou o MP, também era prática consentida pelos responsáveis, a violência dos mais velhos sobre os mais novos «à guarda» daquela instituição, nomeadamente quando não eram cumpridos os objectivos de venda do jornal «Casa do Gaiato».
O relatório, segundo o que o DN publica, é todo ele revelador de uma imensa e inusitada violência, inconcebível numa instituição que, para além de tutelar menores, é dirigida e regida pelos ensinamentos cristãos… bem úteis, quando, o principal acusado, e ainda segundo o DN, evocou o segredo da confissão para «tentar esconder das autoridades judiciárias a identidade dos jovens».
Enfim…
Dois comentários: mais uma vez, como tem sido prática corrente, os meios de comunicação anteciparam-se ao que deveria ter sido um comunicado do MP. Mas que grande «passador» é aquele organismo!
Segundo: à mente ocorre-me que, numa peça do «Público», há menos de dois anos, se denunciava o que se passava na Casa do Gaiato de Setúbal. Baseando-se numa auditoria levada a cabo pelo Ministério da Segurança Social, revelava-se que tinha sido suspenso o envio de crianças para a Casa do Gaiato, devido à «existência de indícios de maus tratos físicos e psicológicos, bem como de um ambiente de isolamento, repressão e clausura»...
Pois, no que foi visto como um «voto de confiança» à instituição, o então ministro da Segurança Social, da Família… e da Criança (!), Fernando Negrão, (repare-se: as suspeitas que basearam a suspensão do envio de crianças partiram do seu Ministério…), visitou e reuniu-se com os responsáveis da CGS, garantindo já haver medidas tomadas para salvaguardar o interesse das crianças. Tudo bem! Óptimo!
O pior foi mesmo o remate: «Às vezes, o que acontece é que as pessoas estão a trabalhar de boa-fé, mas o modelo nem sempre é o mais adequado»
Mais palavras para quê?!

quarta-feira, junho 07, 2006

De passagem...

Vou ouvindo as notícias e pensando o quanto seria hoje útil que ainda existissem alguns «campos de trabalho» activos... já não digo com as câmara de gás operacionais... porque ao preço a que estão os combustíveis era dinheiro mal gasto.

Finalmente!


Começa finalmente a vislumbrar-se neste País, uma atitude rápida de quem compete reagir a coisas perfeitamente absurdas, como as declarações de um membro «nacionalista» à RTP.
O patriotismo é uma coisa bonita, nobre e desejável. Amar a bandeira e o hino do seu país (só mesmo um brasileiro para nos fazer despontar esse sentimento...), amar o seu País no que ele tem de bom e bonito e, principalmente, acreditar no seu País, são sentimentos que se devem cultivar desde tenra idade.
O nacionalismo, infelizmente, tem sido associado a coisas más e lastimáveis devido à sua apropriação enquanto ideologia política.
Que alguém venha à televisão gabar-se das armas que possui e das acções que podem vir a ser praticadas, é algo que não pode ficar impune. Independentemente de revelar a profunda estupidez de quem profere tais declarações — a menos que intencionalmente provocatórias —, ficar indiferente é um acto de cobardia e de submissão.
A reacção das autoridades foi rápida. Os motivos que a levaram a agir ainda não se sabem em concreto. Esperemos apenas que o que se segue também seja célere e que, em situações completamente diversas, nas de que estes grupos se servem para justificar a sua existência, seja igualmente tão rápida e bem mais eficaz do que muitas vezes tem revelado ser.
Vamos acreditar que sim!
Dar uma importância indevida ou deixar passar impune tais actos, não nos torna, nem mais inteligentes, nem melhores cidadãos.

terça-feira, junho 06, 2006

Isto é que é realmente importante!

Distraídos com as tricas políticas, o social e os futebóis, não devemos por isso esquecer assuntos realmente importantes e bem mais prementes, situações que exigem, pela sua natureza, encontrar soluções rápidas e realmente eficazes. Até porque o arrastar da situação, o nosso «porreirismo» nacional baseado no «deixa-andar-e-o-próximo-que-resolva», tem vindo a condicionar gerações sucessivas de individuos que, feitos adultos, muitas vezes vêm a incorrer nas mesmas práticas de que foram vítimas enquanto crianças.
Vêm isto a propósito do facto de, com enorme e disparatado atraso, parecer ter finalmente entrado (ou entrará brevemente...) em funcionamento, a base de dados nacional para a adopção.
Eis uma excelente notícia que teria sido uma não menos excelente prenda para o dia que se comemorou na passada quinta-feira. Uma esperança para as milhares de crianças que, durante anos, esperam por lares adoptivos, por permitir aos centros de adopção, com escassez de meninos e meninas em condições de adoptabilidade, pesquisar e recorrer a outros em situação inversa.
Nem tudo está feito, é bem verdade. Há ainda muito a fazer para aligeirar o processo de adopção em termos de tempo, muita burocracia a vencer; e muitos «poderzinhos» de merda instituídos que exigem ser depostos, nomeadamente da parte de alguns indivíduos que se dizem «responsáveis» pelas crianças que «guardam», simplesmente com o fito de continuarem a receber os apoios estatais… mas também de alguns agentes «enraizados» na máquina burocrática dos centros de segurança social que, despoticamente, continuam muitas vezes a pôr e a dispor da sua «autoridade», fazendo valer uma vontade individual e egoísta baseada na arbitrariedade.
Por falar em autoridade, neste caso judicial, talvez também fosse altura de simplificar e tornar a lei suficientemente bem explícita, de forma a impedir que os seus agentes, mais concretamente alguns juízes, continuem a justificar e a impor decisões que podem visar tudo… menos o bem-estar da criança!
Sem desprezar o trabalho dos centros que se encarregam de organizar os processos de adopção, impõe-se, pois, que se agilizem os processos para que se acelere drasticamente o período que medeia entre a entrada de uma criança num centro, se estabeleça a sua condição de adoptável e se proceda a sua passagem para os pais adoptivos. É essencial, única e exclusivamente para as crianças, já que, em adultos formados, não se pode comparar minimamente a ânsia da espera destes, à angústia de uma criança que vê a sua idade progredir e começa a tomar consciência do quanto diminuem as suas hipóteses de adopção.
É evidente que, para isso, se requer que o Estado tome uma série de atitudes, impedindo que muitos continuem a encarar os centros de abrigo, não como depósito permanente, mas como locais de transição. Que, quanto mais rápida, melhor.
Mesmo que não fosse pelas crianças, o que é absurdo pensar que assim não acontecesse, numa atitude economicista de diminuição das despesas do Estado.
Contudo, eis uma boa notícia. Vamos acreditar que outras se seguirão e que estamos perante uma luz ao fundo do túnel!

segunda-feira, junho 05, 2006

Revista XIS

A XIS, do «Público» é, provavelmente, um dos melhores pequenos suplementos dos nossos jornais diários, rico e condensado em termos de conteúdo e ideias. Recomendo vivamente a leitura da que saiu no último sábado dia 3: desde um interessante editorial de Laurinda Alves a propósito de um livro francês sobre comportamentos humanos, um artigo sobre os papel dos média enquanto quarto poder, outro sobre os riscos e influência da Internet sobre os mais pequenos e um trabalho sobre a neurofibrose, há que juntar as palavras de Maria José Costa Félix sobre a atitude de cada um face ao amor, para rematar com a Crónica de Daniel Sampaio sobre o que ele considera o «atraso da adolescência», ou o retardar da fase de independência dos filhos. Fabulosa esta XIS.

Gosto muito do Verão!

Gosto porque ele traz os decotes pronunciados, os topes, as barriguinhas à mostra.
Só não entendo depois aquela preocupação permanente em puxar a blusa para baixo tapando o umbigo!
É o gesto provavelmente inconsciente, provavelmente matreiro que diz muito. E muito, mas mesmo muito engraçado…
Enfim… acho que ‘tou é a ficar velho!

quinta-feira, junho 01, 2006

Dia da Criança

Encaro a ida ao barbeiro com uma disposição muito especial. Não é um ritual, antes uma oportunidade para dois dedos de conversa com alguém geralmente bem informado, onde se aprende e descobre muita coisa…
É uma daquelas alturas em que se pode conversar sobre tudo, sem pressas, ou antes, com o tempo apenas condicionado às artes do ofício e, claro, à quantidade de clientes que esperam.
Mas não me quero desviar do tema. Hoje seria dia de escrever qualquer coisa em louvor das crianças, pois é o seu dia, mas apetece-me antes contar um episódio que ocorreu da última vez, precisamente na altura em que, com o cabelo aparado lateralmente, eu fintava no espelho a bela trunfa que ainda me restava a meio da cabeça.
Ora o filho do mestre da navalha (lá vai o tempo...), resolveu praticar, em si mesmo, as artes do pai com um pente que retirou da bancada de trabalho. Só que, não satisfeito com o resultado, resolveu atirá-lo ao chão. O progenitor admoestou-o e mandou-o voltar a colocá-lo no lugar. Lá levantar o pente do chão, o miúdo levantou… para de seguida voltar a atirá-lo com toda a força de encontro ao soalho!
Não se livrou de um par de palmadas no rabo e de um raspanete. Num pranto, o petiz quis ir-se embora com a mãe, enquanto o pai lhe exigia um beijo de despedida.
Já na porta, quando parecia não estar a fazer caso, voltou-se, abriu os braços ao pai e disse entre soluços: «beijinho…».
Poderia dissertar agora sobre violência infantil, sobre educação, até sobre um recente e estranho acórdão de Tribunal a esse respeito. Poderia também explanar o que penso sobre educação, autoridade, respeito. Sobre o papel dos pais, nomeadamente sobre a dispensa de muitos… Poderia…
Só que uma das coisas que neste momento me vêm à mente são as imagens tristes de crianças que levantam a mão aos pais e, estes, encolhendo os ombros e sorrindo, ainda que comprometidos, balbuciam: «feitio!...».
Eis um extremo que não me agrada mesmo nada!

Essa força chamada Paixão!


Se é verdade que o ensino em Portugal não está bem e cada vez mais há estudantes a escreverem mal na sua língua materna, se por vezes nos deparamos não apenas na ausência de ideias como na incapacidade de as expressar, por outro, a vida prega-nos agradáveis surpresas.
De alguém cúmplice desta agradável tertúlia que é gostar de escrever e de partilhar pensamentos, tive o privilégio de puder ler o que a seguir transcrevo. Hesitei colocar aqui por não ser da minha autoria, mas entendo que seria um gesto puramente egoísta não o fazer. Fico com a honra de ter sido, não apenas o primeiro a deliciar-me com as palavras e as ideias expressas, mas também de terem surgido de um desafio por mim lançado.
A elas, às palavras, me rendo… e me reduzo:

«Seja um acto de amor pela vida, seja uma das fases do ciclo de um relacionamento, a paixão implica sempre uma energia, uma entrega, uma renovação.Na vida, é ela que não nos deixa adoecer na rotina. É ela que nos faz sorrir no fim de um dia extenuante de trabalho, que nos impele a levantar na manhã cinzenta, que nos faz projectar o futuro... Sem paixão, tudo fica sem graça e com ela até as coisas mais banais se tornam nobres.
Se poderemos ser felizes sem estarmos verdadeiramente apaixonados pela vida? Não, não creio. Precisamos de entusiasmo, de intensidades, de percursos e descobertas, de espanto e de ânsia, do descarrilar do óbvio e do desalinhar das certezas... Só assim poderemos apreciar, na plenitude, a dádiva da vida. E sem essa vivência em pleno... não somos felizes. Parece que algo nos falta, as tarefas se tornam sentenças e quase nada nos satisfaz. E sem nos apercebermos, apenas existimos, limitando-se, assim, a cumprir-se em nós o mero fardo da propagação da espécie... Mas viver é muito mais que existir…Pessoalmente, anseio por VIDA. Apaixono-me por tudo o que ma dá e definho sempre que ma sugam (morro no tédio e sufoco no previsível). Enamoro-me pelas palavras, pelas coisas, pelas pessoas... Quando colocamos paixão no nosso dia-a-dia, nas coisas que fazemos, o dia corre melhor, as pessoas parecem-nos mais afáveis e até o trânsito deixa de nos incomodar!
Mas nem sempre é fácil encontrar essa energia. Às vezes estamos entediados, casmurros. É nessas alturas que me lembro de uma frase de um dos livros que li: «o pássaro não canta porque está feliz, mas está feliz porque canta». Por vezes, basta mudar a nossa forma de encarar as coisas («cantar») para, de imediato, se alterar a realidade (e eis que somos felizes!).E depois há a tal paixão como etapa de um relacionamento. Curiosa essa paixão. Inebriante, torna os amantes sós. Todos os apaixonados são solitários, já reparaste? Todo o mundo à volta esvazia-se de sentido. Mudam-se os hábitos, mudam-se os percursos, descobrem-se desejos, mas é tudo, tudo só deles. E é assim, porque só os dois se bastam. É maravilhoso!Pode haver amor sem paixão? Sim. Pode o relacionamento assente apenas no amor sobreviver sem paixão? Não, não o amor pleno.Distingo entre «paixão inicial» (fase que precede o amor, a existir) e «paixão sobrevivente» (aquela que, diferente da paixão inicial, tem que existir, para que haja um amor pleno, completo; não é tão explosiva como a inicial, mas tem que estar presente... sob pena de a relação sucumbir de sede...).Enquanto «paixão inicial», ela está condenada no tempo, é efémera. O entusiasmo e a euforia iniciais (que só a novidade provoca) não se repetem. Compreender isto é fundamental, pois de contrário podem gerar-se muitas frustrações. É uma ilusão esperar-se perpetuar essa «paixão inicial» indefinidamente por todo o universo temporal do relacionamento.Findo esse período, pode ficar uma nova etapa. Toda aquela inicial exaltação dos sentidos se acalma, é como a revolução que depois gera a paz. Vive-se agora uma fase menos tempestiva, mais serena; trocam-se cumplicidades, mas o mar está mais calmo. O que temos então? Amor. Mas pode este amor existir sem paixão? Sim, pode... porém, ele não será pleno (será sempre incompleto). Penso no tal «amor fraterno», no querer bem, na ternura. Pode existir, sem já haver paixão. E assim pode ficar moribundo durante o tempo que ambos o suportarem ou a cedência às convenções sociais (a hipocrisia?) o sustentarem (isto, quando não se desgasta o próprio amor fraternal e nem isso resta...). O preço para este conformismo? O sacrifício da felicidade pessoal e conjunta...Mas, dizia eu, esse não é o amor pleno. Porque este, este sim, não pode existir sem paixão. Este exige um reinventar ou solidificar de desejos, exige entusiasmo, carisma, ânsia (é a «paixão sobrevivente»). Precisa disso para viver.Que fazer então para que essa paixão sobreviva, não sucumba? Pessoalmente, não acredito em relacionamentos enfadonhos na sua essência, mas sim em pessoas enfadonhas. São as pessoas que não se reinventam, que cansam, que se acomodam... ou que simplesmente desistem...»

Assim vai Portugal...

O nível de educação em Portugal vai de mal a pior! Só os mais distraídos poderão ter ficado surpreendidos e escandalizados com a reportagem que na passada 2.ª feira a RTP exibiu. A situação não é nova e vem-se arrastando há décadas. E, ainda que realmente o que se viu não se possa extrapolar para todas as escolas do País, a verdade é que eu próprio assisti a cenas semelhantes quando, há cerca de 15 anos, prestei apoio numa das escolas mais problemáticas da margem Sul.
A culpa é de todos, ainda que, à boa maneira nacional, ninguém queira arcar com as responsabilidades: dos pais que não educam os filhos esperando que sejam os professores a fazê-lo, dos professores que não estão para se chatear porque a maioria até nem tem formação como tal e a via do ensino foi o único trabalho que encontraram após a licenciatura e, como se não bastasse, estão permanentemente a ser desautorizados, de quem cria anacrónicos e desajustados programas escolares, de quem legisla, dos funcionários e da sociedade em geral.
Retirou-se autoridade à Escola, descredibilizou-se a Instituição. Reina o «deixa-andar» porque «não aquece nem arrefece», a contínua desresponsabilização e as perspectivas de mudança são infelizmente ténues. Os alunos, vão para as escolas carregados com pesadas mochilas cheias de livros, manuais, material escolar, dossiers e um sem número de apetrechos necessários — onde não raras vezes se inclui o «game-boy» ou afins… —, mas o resultado é ter alunos do 2.º Ciclo que não sabem falar, quanto mais escrever português!
Que não se discuta a razão porque muitas vezes são crianças provenientes de outros países, as que obtêm melhores notas, incluindo em Português, é sintomático…
O resultado de todos estes anos de inércia? Bem, basta olhar para as estatísticas económicas, do ensino, da segurança…
A estrutura do Ensino em Portugal está mal… porque as bases, a educação familiar também está corrompida e não se espere que o tipo de ensino que hoje existe, perfeitamente desajustado, sirva para corrigir a situação.
Felizmente estamos entre as dez melhores selecções nacionais em futebol. E como ainda existe Fado e Fátima, se durante tantos anos isso nos bastou…

quarta-feira, maio 31, 2006


Hoje sinto-me down...
Não sei se é deste tempo que nem aquece nem arrefece, nem faz chuva nem faz sol, se do olhar de desalento que descubro nos olhares das pessoas com quem me cruzo na rua. Que falta de amor e de esperança, que falta de interesses e de alento, que ausência de vontade...
Ou se calhar sou eu que me sinto assim.
E espelho-me nesses olhares...

terça-feira, maio 30, 2006


Uma fábula a propósito…

Reconheço a minha falta de jeito para construir fábulas; não me surgiu, contudo, melhor forma para falar da falta de afirmação, ausência de iniciativa e muito comodismo, quantas vezes também gerado pela ausência de amor e vontade própria.

«Era uma vez uma pequenina flor que teimava em despontar para além da erva alta que a rodeava. Ela tinha uma vontade imensa e descobriu em si um vigor que desconhecia possuir, mas que a fez crescer forte, segura e resistente ao vento. Por causa disso, por ter feito das suas fraquezas força, ganhou um imenso orgulho em si, na sua capacidade e tenacidade, ensinando e incentivando todas as que a rodeavam para que teimassem em descobrir em si o ânimo que as tornaria robustas e faria daquele campo um bonito e invejado tapete de flores multicolores. Não era a mais bonita de entre todas as flores, mas, pela energia que dela transbordava, quase todas as outras a apreciavam, mesmo não sendo ela, nem a mais colorida, nem a mais vistosa, nem a que emanava o perfume mais requintado.

Era uma vez uma planta que cresceu protegida e objecto de todos os cuidados. Era alvo constante do seu criador, que a aparava quando queria crescer demasiado para além daquilo que o seu protector concebera. Ele protegia-a, zelava para que não tivesse nem sol nem humidade a mais, para que os seus ramos não escapassem livremente e desfeassem a obra que zelosamente acarinhava e que, além do prazer de a contemplar e exibir, era a companhia permanente dos seus dias. Ela, delicada planta, gostava e desfrutava por ser o brilho de todas as atenções, mas, um dia, teimosa que era, conseguiu ludibriar atenções e, num esforço corajoso, tentou fazer-se árvore por vontade própria. Descobriu, então, o quanto era frágil e carente, o quanto, por ter crescido enlevada em protecções, desconhecia o mundo e o quanto não estava ajeitada para o enfrentar. Definhou lamentando o gesto de rebeldia que a privou dos cuidados e dedicação, carinhos que a afastaram do seu curso natural e lhe condicionaram o crescimento, mas que a reconfortavam; deplorou os dias e a vida, pobre e desadaptado bonsai que culpava agora o mundo cruel das suas amarguras e angústias, porque cresceu sem defesas, sem forças, sem atitude e com uma desajustada vontade própria que agora o fazia suspirar pela atenção do seu criador.

E era uma vez um pequeno passarinho que hesitava em abandonar o ninho. Tal como o bonsai, ele cresceu objecto, mais do que carinhos, da presença castradora de uma mãe que confundia afecto com a posse egoísta da sua vontade. Ele sabia o quanto desgostaria a sua progenitora quando um dia resolvesse voar para longe, via-o na mágoa que ela fazia questão de demonstrar sempre que ele se aventurava por qualquer ramo vizinho. Não desdenhava os perigos que o espreitavam no seu voo; mas sabia também que, se não encontrasse vontade de ser livre e de encontrar o seu rumo, impediria a sua mãe de gerar novos ninhos.»

Os mais pessimistas dirão que a bota do caçador esmagou a flor antes do tiro certeiro. Os mais optimistas, que uma abelha poisou na flor que se destacava e, nas suas patas, transportou o polén que gerou um mel revigorante, enquanto o pequeno passarinho se fez adulto e soube sempre ensinar as suas crias a voar.
De qualquer modo, do retorcido bonsai, não reza a história. Ainda que a Natureza seja indiscutivelmente menos complexa do que a alma humana!

sábado, maio 27, 2006


Menino birrento

Confesso: não gosto mesmo nada do nosso filósofo/escritor/político. Como pessoa. Do resto não sei, nunca li e não faço tenção de ler, mesmo que por isso me chamem ignorante. Não quero saber.
Ele comporta-se como um menino mimado que faz birra quando não lhe fazem as vontades, e, como tal, caprichoso no seu ar muito superior de olhar os outros como seres inferiores e analfabetos. Claro que nunca erra, nunca falha, nunca tem culpa, pois o ónus de tudo o que de mal acontece é sempre dos outros, ignóbeis e incansáveis malandros, cuja mesquinhez e inveja os leva frequentemente a quererem fazer-lhe coisas pelas costas. Pois…
Também não ouve ou não sabe ouvir, principalmente quando as opiniões são contrárias à da sua sapiente cabeça, não correspondem à sua vontade ou pura e simplesmente o colocam em contradição. É, pelo menos, a imagem com que fico ao ouvi-lo, mas a verdade é que não sei, nunca falei com ele, quanto mais privei, e nem sequer alguma vez me dediquei a ler algum livro que tenha escrito.
Mas é a imagem de um extremo de que não gosto!
Agora, do pouco que conheço de sua mulher, do que ouvi, do que li e de uma ou duas vezes ter falado com ela, em termos meramente profissionais mas que acabaram por se tornar coloquiais, entendo que ainda existam pessoas que o conseguem aturar; no caso dela, é por demais evidente que o consegue, porque, pelo que percebo, sempre teve jeito para crianças…
É, por isso, uma personagem, mais do que inconveniente, incómoda para alguns. Perigosa até! Tarde percebeu que a sua candidatura à presidência da Câmara, no cumprimento de mais uma das suas birrentas vontades, foi aproveitada pelos seus pares para o «queimar» e descredibilizar politicamente.
Este texto vem a propósito do seu livro — o qual não tenho nenhuma intenção de ler, repito —, mas cujos excertos nos meios de comunicação e o debate na RTP se suscitaram algumas ideias.
Ideias sobre o funcionamento dos ditos «meios de comunicação» em Portugal. Ideias que passam pelos autênticos viveiros de estagiários em que se tornaram a maioria das redacções, do que os jornalistas fazem por «aquele exclusivo» — como se atropelam, como se «vendem», ao que são «obrigados» e às cumplicidades que se geram e descredibilizam a ideia de imparcialidade que é suposto terem —, até ao simples facto de já não ser necessário dispor de carteira profissional de jornalista para se ser director de um jornal. Ou em certos tipos de «pressões»…
Eles «há-dem» ver como ainda volto ao tema. Para já chega. «Prontos»!

quinta-feira, maio 25, 2006

Faça um favor à credibilidade!


Temos como figura do Estado Português um senhor que é bem o reflexo da forma de estar nacional. O «deixa andar», a desresponsabilização e, como escreveria Paulo Coelho, provavelmente com um «Banco de Favores» bastante vasto.
Só assim se entende como o organismo que supostamente dirige se mostra totalmente incapaz… É que ele também age de igual forma!
«Deixar andar» neste caso, significa prescrever. E prescrever significa menos trabalho não é? E deve haver muito trabalho, pois só assim se compreende que, processos com carácter de urgência, demorem meses para chegarem a alguma conclusão. Se é que chegam!
Para tranquilizar a população — e quiçá para manter até ao fim o seu tacho —, esta nobre figura, sujeita a pressões que só ele conhece, surge volta e meia a «botar sentença». Recentemente — porque, afinal, a casa que supostamente dirige é um verdadeiro ralo de informações confidenciais para o exterior e ele não deseja ficar atrás… —, chegou ao extremo de «oferecer-se» para entrevista a um semanário nacional, onde revela dados sobre uma investigação que ainda está em curso.
Ora pergunto: não é isso quebra de segredo de justiça?
Não, porque os culpados, segundo este senhor, são os jornalistas. Os jornalistas que revelaram o que está mal, como culpados são os jornalistas que denunciam a sua incompetência. Não, claro está, os jornalistas e os jornais que se «vendem» por uma declaração exclusiva sua.
Quando dá jeito!...
Como todos nós o entendemos meu caro cidadão português!
Como nós gostamos de «deixar andar» à espera que o ordenado caia ao fim de cada mês, como nunca temos culpa das acções que praticamos porque a Justiça é cega e não nos vê e como gostamos, volta não volta, de arrotar umas «postas de pescada» e de nos curvarmos para o nobre acto de engraxar, pois é assim que, geralmente, neste rectângulo se conquista o direito a um dia andarmos com os sapatos polidos por outrem…
E ainda querem que acreditemos na Justiça, na Política, nas Instituições em geral? Já que parece que ninguém os tem no sitio para tomar a atitude de o pôr a mexer («rabos de palha»? «Telhados de vidro»?), que tal se tivesse a muito honorável atitude de ir a banhos que o verão está à porta? E ficar por lá…
Mas não quero parecer demasiado injusto. Provavelmente, o facto de permanentemente parecer estar com o nariz entupido, deve criar-lhe problemas de oxigenação ao cérebro…