O meu caderno de desabafos. O meu diário. O meu espaço de catarse; de psicanálise. O meu livro de reclamações. A minha janela para o mundo. Eu. O meu blog. As minhas excitações. As minhas frustrações. As minhas paixões. A vida. A minha, de quem me rodeia, a que eu vejo e sinto. Dentro da lâmpada. Dentro do Mundo.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Hoje vi um Arco Íris!


Fui ao banco e demorei menos tempo do que esperava; à saída, quando já abria a porta, um casal preparava-se para entrar. Dei-lhes passagem e desataram a perguntar-me coisas sobre o crédito habitação. Informei-lhes que não era empregado bancário — nem sequer cliente — e olharam-me espantados.
Definitivamente estamos a ficar pouco habituados à educação ou a meros gestos de cortesia...
Quem os tem começa a correr o risco de, ou parecer fraco, tímido, procurar um engate ou simplesmente parecer parvo. É triste...
O dia não tem sido particularmente fácil. São as buzinas freneticamente pressionadas por irados condutores, o trabalho, questões pessoais mas... hoje vi um Arco-íris de manhã quando passava a ponte.

E nesse momento, nessa oferta que a natureza criara especialmente para mim e para todos quantos tiveram a oportunidade de o apreciar, percebi que hoje tinha que ser um belo dia. Por isso tive tempo para me abstrair de tudo e me concentrar nas pequenas coisas. Encontrei tempo para mim. Deixei propositadamente as carruagens do metro partirem enquanto me concentrava no desafio de resolver um intrincado problema de Sudoku. E consegui!
Senti-me recompensado. Senti também, sem o querer, um pequeno travo de vingança por ter conseguido enganar o tempo que nos prende frenética e vertiginosamente às actividades do dia-a-dia.
Fiz o que queria, e deixei por fazer o que posso adiar; mas, certamente, noutra altura, quereria resolver, despachar tudo. Hoje não! Vi um Arco-íris. E não irei defraudar a vontade que nessa altura senti!
Nem deixar que algo me aborreça. Mas, pelo sim, pelo não, vou já bater três vezes na madeira…

Achei!...

Descobri a única razão para este dia!
Bolas! Vejo as notícias e oiço as associações ambientalistas falarem do pouco impacto ou das inexistentes consequências que esta palhaçada tem para o ambiente ou para a consciencialização das pessoas...
E cheguei à única conclusão plausível: é para nos lembrarem que estamos na Europa!!!!!...
É que podemos não ter os mesmos salários (alguns pelo menos...), não temos a mesma produtividade, assistência social, educação, cultura, etc., etc.... mas porra!: Temos um dia EUROPEU sem carros!

É só folclore…

Esta palhaçada do «Dia Europeu sem Carros» que nem todas as cidades ligam e que para uns é ao domingo para outros qualquer dia serve, não passa de uma rematada palhaçada. Hoje Lisboa não apenas não ficou com menos automóveis a circular, como o facto de algumas ruas terem sido fechadas, acabou por provocar, em algumas zonas, monumentais engarrafamentos.
Os polícias na rua puderam dar larga à sua vontade de autoridade ou de autoritarismo — engraçado como nestas alturas sobra sempre polícia, quando realmente são precisos escasseiam… —, os engarrafamentos geraram situações de «pára-arranca» que certamente aumentaram as emissões de poluentes e, quanto a efeitos práticos, tirando um ou outro tão consciencioso quanto assustado cidadão ziguezagueando entre irritados condutores — e tragando volumosas quantidades de gás emitidos pelos escapes dos carros que circulavam —, nada se viu.
Mas, aderentes ao folclore, algumas rádios e televisões esforçavam-se por transmitir um acontecimento abortado ainda antes de o ser, ao qual nem S. Pedro quis ajudar. Nem S. Pedro, nem as autoridades competentes, porque, se o objectivo era realmente convencer os utentes a não circularem de automóvel em Lisboa, por exemplo, havia que proibir, repito proibir e aplicar coimas aos prevaricadores — porque parece que só assim nós, portugueses «vamos lá»… — e tratar de encontrar soluções para quem entra de carro em Lisboa. Essas soluções passariam por parques automóveis à entrada da cidade, devidamente sinalizados e anunciados com a devida antecedência, e pela criação de uma rede eficaz e convincente de transportes alternativos, reais e não virtuais como costuma acontecer.
Mas claro que percebemos que isso dava imenso trabalho e, obviamente, há coisas mais importantes para resolver. Agora por que raio é que temos nós de ter a maçada de aturar esta rematada farsa?

terça-feira, setembro 12, 2006

O dia seguinte




Procurei fugir aos clichés de falar sobre o aniversário do 11 de Setembro, ser mais um a lamentar as mortes que levaram a esse dia e daí advieram, ou simplesmente referir sentimentos que sobrevieram ao olharmos para o monte de destroços, para as figuras empoeiradas que deles saíam, milagrosamente ainda com vida, ou até as faces de horror, pânico e incredulidade de quem presenciou a tragédia.
Também não irei falar de política, do conflito de sistemas, pensamentos, credos e modos de olhar a vida, o mundo e a própria morte, que existe entre o Ocidente, dito «civilizado» e um Oriente árabe dito «fanático». Não quero defender polémicas, como não quero entrar por teorias da conspiração ou apontar responsabilidades a um ou a outro lado, até porque os «lados» em confronto são também eles difusos, vastos e nem sempre bem identificados.
Assisti pela TV a alguns dos inúmeros documentários com que nos brindaram, uma panóplia vasta de maneiras de olhar e relatar o que nesse dia se passou e de como o mundo, mas sobretudo os americanos, mudaram a partir de 11 de Setembro de 2001, para já não se espantar tanto com Atocha ou com o atentado no metro de Londres.
Vivemos inevitavelmente dias de medo, consciente ou inconsciente, revelado ou escondido pela vergonha de o aceitarmos, de nos sentirmos condicionados, espreitando receosos sempre que algo sai fora da rotina, do «normal», nos inspira desconfiança e nos leva… ao medo de que algo de terrível nos aconteça. Vivemos, felizmente, num país onde isso não se pressente tanto, acreditamos até que se calhar «eles» nem sabem onde fica Portugal (ou mesmo que julguem que «somos» Espanha e como lá já «molharam a sopa»…), acabando por olhar com alguma incredulidade termos polícia armada até aos dentes em alguns locais, de conviver e aceitar que seja posta alguma restrição nos aeroportos, e, se nos descuidarmos, sermos olhados como potenciais homicidas/suicidas se tomarmos uma reacção mais brusca ou nos passearmos de mochila às costas em algumas capitais europeias.
Era isso, criar terror e desconfiança no Ocidente, que os atentados pretendiam e conseguiram. Restringiram a nossa liberdade, a liberdade de que o Ocidente tanto se orgulha e defende em contraponto ao que se passa «do outro lado» e conseguiram, sobretudo, outro feito: dividir o Ocidente, dividir a Europa e os Estados Unidos, dividir as Nações mais preocupadas com os seus interesses Geo-estratégicos, demonstrando a fragilidade da «nossa» civilização, cada dia mais oca de valores e de unidade, preocupada com conveniências e interesses próprios, tal Império que se desmorona por falta de cultura e educação, por falta de credo e amor nos seus valores, por estupidez, por mesquinhez, por ganâncias absurdas e imerso em ócio e futilidades em demasia.
Traçado este quadro negro — e nem era disso que me propunha falar —, um contraponto de esperança veio-me ao presenciar as imagens dos momentos, dos dias que se seguiram ao 11 de Setembro. Ao verificar como todos — brancos, negros, asiáticos, árabes, cubanos, japoneses —, inimigos de ontem e supostamente de agora, todos, se uniam num esforço e imenso e diversificado na procura, na busca, no resgate de corpos, vivos, feridos ou mortos, no choro, na consternação, na incredulidade…
Os homens e mulheres que, muitos deles, numa situação completamente diversa, seriam capazes de pegar em armas para se matarem, por acreditarem que o fariam por algo correcto ou levados a isso por meia dúzia de dementes ambiciosos, gananciosos ou simplesmente lunáticos, estavam ali, descomprometidos, desinteressados e preocupados em ajudar.
Confesso que via as imagens e ouvia os testemunhos mas na minha cabeça bailavam os acordes do «Imagine» de John Lennon

Imagine there's no countries,
It isnt hard to do,
Nothing to kill or die for,
No religion too,
Imagine all the people
living life in peace...

também ele assassinado por um louco por razões que ninguém consegue entender.
Mas ao olhar e desejar ser um deles, pensei como seria bom imaginar um mundo tão simples quanto o cantado por Lennon. Um mundo que todos nós desejaríamos, um mundo que todos nós queremos, desde que possamos continuar a invejar o vizinho, a destilar raivas sobre o clube de futebol do parceiro, a tramar o colega de trabalho, e a poder, volta e meia, portarmo-nos como seres violentos e irracionais.
O ser humano é deveras complexo sem dúvida. Mas posto isto, relido o que escrevi, uma imensa dúvida me assola: como será ele melhor, o ser humano? Despido de valores, fútil e dividido em credos, ou fanaticamente religioso, crente e devoto em ideais que, na realidade, nem sequer existem ou são diametralmente opostos aos que constam nos textos sagrados?

segunda-feira, setembro 11, 2006

Esquisso


Por vezes gosto de regressar aos «meus» clássicos para lembrar verdades.
Ajuda...

«Não há forma nenhuma de se verificar qual das decisões é melhor, porque não há comparação possível. Tudo se vive imediatamente pela primeira vez sem preparação. Como se um actor entrasse em cena sem nunca ter ensaido. Mas o que vale a vida se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É o que faz com que a vida pareça sempre um esquisso.Mas nem mesmo «esquisso» é a palavra certa, porque um esquisso é sempre um esboço de alguma coisa, enquanto que o esquisso que a nossa vida é, não é esquisso de nada, é um esboço sem quadro. Tomas repete em silêncio o provérbio alemão «einmal ist keinmal», uma vez não conta, uma vez é nunca. Não poder viver senão uma vida é pura e simplesmente como não viver.»

— in «A Insustentável Leveza do Ser», Milan Kundera

Não temos tempo...


Vivemos na era do imediatismo, do sensacionalismo, da necessidade da diferença sem que tenhamos coragem para a assumir ou façamos dela mero instrumento de exibicionismo, mas também da agressão encapotada e constante à forma individual de sentirmos e olharmos o mundo.
Diariamente somos agredidos por coisas de que não gostamos e à quais parece que somos «obrigados» a reagir de imediato. De imediato, sempre, porque parece que o tempo voa, as coisas passam e corremos o risco de parecer atrasados se temos a leviandade de nos detemos para pensar.
Caramba! É sempre tudo imediato! Imediato e efémero. Só não passa o que nos magoa nesta incessante teoria da vitimação…
Quantas vezes perdemos o hábito de ouvir e meditar nas palavras que escutamos, de nos determos perante um gesto, palavras e movimentos que, nos parecendo agressões, não passam muitas vezes de meros grito de alerta?
E quantas vezes encontramos coragem para assumir a custa e a responsabilidade dos nossos actos? Quantas vezes, custando muito eu sei, «damos o braço a torcer» reconhecendo que errámos, que erramos e que erraremos sempre porque não somos seres perfeitos nem máquinas programadas, temos sentimentos, temos vontades, temos gostos e temos necessariamente maneiras diferentes de encarar cada coisa... mas é tão mais fácil alinharmos pelo que nos impõem, pelo que nos oferecem, por essa identidade colectiva a que uns chamam «modas e tendências», outros globalização.
Temos vergonha do remorso porque ele nos outorga a culpa ou a assumpção da responsabilidade, sendo no entanto o remorso um dos sentimentos mais belos quando nos move à correcção e ao conserto dos erros…
E onde nos leva todo este imediatismo?
Por causa dele, hoje em dia muitas relações são fugazes. De pequeninos somos habituados a comprar as coisas prontas; quando se estraga, quando já não nos serve… deita-se fora e compra-se novo. E, depois, não temos tempo! Não há tempo, numa montanha de actividades e interesses para nos distrair, acabamos por aplicar às amizades e aos relacionamentos em geral o mesmo princípio…
Tudo fugaz e efémero… não temos tempo. Ou não temos vida?!

terça-feira, setembro 05, 2006

Diálogo de barcos...


— «Porque não navegas tu?», pergunta o barco preso ao barco livre
— «Porque te venho salvar mal a maré suba. Porque amo a liberdade de poder vogar sem rumo ao sabor da corrente»...
— «Mas se navegas ao sabor da corrente, que liberdade é a tua?»