Quando uma mulher grávida é obrigada a abortar, para não perder o emprego, o errado não é a ausência de leis que a defendam nessas circunstâncias ou até, como já acontece em muitos outros países «civilizados» (porque a civilização não é apenas criar leis permissivas) que incentivem e estimulem a maternidade?
Se uma adolescente engravida, o que falhará não é o descurar das causas que geralmente radicam numa educação sexual deficiente, na falta de informação e de acompanhamento, sobretudo dos próprios pais?
De que adianta ter leis que pretendem resolver o problema a jusante, quando se o descura a montante? Não é por ter uma lei que permite o aborto, que a Inglaterra (se não estou em erro até bastante tarde!), por exemplo, deixou de ter uma elevada taxa de gravidez na adolescência!
É muito bonito afirmar-se, como já ouvi, que existirá um acompanhamento psicológico das mulheres que pretendam abortar, no caso do referendo sair vitorioso. É reconfortante, de facto... mas quando se olha para o actual estado da saúde em Portugal, que meios e verbas terão os centros públicos para garantirem isso, quando tantos outros pacientes com diferentes necessidades esperam meses por uma consulta da mesma especialidade? Conhecendo a situação do emprego em Portugal, quantas mulheres afirmariam, em consulta de avaliação, que não, não querem abortar mas não têm outra alternativa senão... vão engrossar as listas do desemprego? Quando se imagina o que seria muitas terem que se deslocar quilómetros e quilómetros porque não têm um centro de saúde ou um hospital próximo (e não nos escandalizemos com isso: as que têm que dar à luz também o fazem, não é?), quando se imagina o drama de muitos casais inférteis que esperam anos por uma consulta pública ou se empenham para recorrer ao privado, quando não se consegue esquecer o drama de crianças órfãs, «condenadas» a crescerem nos centros porque quem deveria evitar que isso acontecesse não demonstrou o mesmo empenho...
Sinceramente! Acham que a maioria dos portugueses é parvo?
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