O meu caderno de desabafos. O meu diário. O meu espaço de catarse; de psicanálise. O meu livro de reclamações. A minha janela para o mundo. Eu. O meu blog. As minhas excitações. As minhas frustrações. As minhas paixões. A vida. A minha, de quem me rodeia, a que eu vejo e sinto. Dentro da lâmpada. Dentro do Mundo.

quinta-feira, maio 03, 2007

A queda do último portão de Bastilha!

Ontem foi noite do grande debate televisivo em França. Desde De Gaulle que a França vive órfã de uma figura política de relevo e marcante para a sua história recente, inclusive a Europeia. É verdade de teve François Mitterrand, tem Jacques Chirac, titubeantes, ambíguos e cataventos, infelizmente também um corsário demagogo chamado Le Pen, e talvez só Pompidou ou Giscard d'Estaing se tenham aproximado em atitude e acção da figura do general que conduziu a França na clandestinidade à libertação nazi e depois seria chamado a refazer uma França mais moderna, actuante, cultural e economicamente importante no contexto europeu.

A França parece no entanto padecer do eterno receio de ressuscitar um Pétain (pelas características da então constituição francesa, a figura cimeira da presidência e da chefia do governo durante o governo fantoche instalado pelos nazis), ainda e sempre mantém-se na sombra fantasma do eixo franco-alemão e permanece em rivalidade eterna com o protagonismo da velha Albion. O que não deixa de tornar inevitável olhar Sarcozy e encará-lo, pelos gestos e atitude, como uma aproximada versão brioche de Blair, enquanto que nas políticas e ideologias mais lembra o pensamento de ferro da dama Thatcher.

Em alternativa, os franceses têm os olhos maternos, protectores mas determinados da rival Ségolène, auto imposta pelas sondagens e sapo mal engolido pelo aparelho socialista que se obrigou a aceitá-la. Linda, glamourosa e com um olhar fascinante, Royal impôs-se numa sociedade que, tendo marcado a evolução cultural europeia dos últimos séculos, que deu a República, a Comuna, a Declaração dos Direitos Humanos, a escrita, a poesia e a pintura mais marcantes, que ainda hoje estabelece as novas tendências da moda, que impôs o biquíni e o topless, parece desconfiada em aceitar ser governada por uma mulher.

A mesma França que canonizou Joana D'Arc, que estabeleceu Marianne com o seu gorro frígio como símbolo da República e adoptou muitos outros símbolos femininos, e que apenas contrapõe o combativo galo para não se desvirilizar demasiado, mesmo esse reduzido a fins desportivos ou militares.

Curioso verificar que, entre a grossa fatia dos seus apoiantes estão declaradamente os homens dos 35 aos 50 anos, mais experientes no reconhecimento e na apreciação de uma mulher madura, determinada e lutadora, que nem por isso abdica da graça, do toque feminino e sedutor, ou até que, sem pruridos e realçando o papel de mulher/mãe, tem sabido inteligentemente fazer disso uma arma de combate político. Notável! Fascinante!

Igualmente curioso e até risível, entre os seus maiores detractores, estão maioritariamente as mulheres, incapazes de lidar com as capacidades, protagonismo, admiração e demonstrações de vitalidade de Ségolène, ex-ministra e ainda deputada. Talvez não venha a tornar-se na primeira mulher a alcançar a Presidência Francesa. Provavelmente, as suas políticas económicas até são demasiado irrealistas para se imporem nos tempos actuais da república tricolor, mesmo tratando-se do país que tanto preza o lado social e protector do estado. Ou, pelo contrário e até por isso, se calhar, dada a proximidade nas sondagens e à garra ontem demonstrada, Ségolène consiga surpreender a França mesmo em cima da hora. De forma imprevisível. Surpreendente e com o glamour sedutor e convicto que só as mulheres parecem possuir quando desejam conquistar!

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