O meu caderno de desabafos. O meu diário. O meu espaço de catarse; de psicanálise. O meu livro de reclamações. A minha janela para o mundo. Eu. O meu blog. As minhas excitações. As minhas frustrações. As minhas paixões. A vida. A minha, de quem me rodeia, a que eu vejo e sinto. Dentro da lâmpada. Dentro do Mundo.

quinta-feira, agosto 03, 2006

As ironias do destino


Há algum tempo que não venho cá, distraído com as férias, a antecipação dos trabalhos que tenho que deixar feitos, perdido com o calor e o sol que chama para a praia e acentua a preguiça. Hoje, por acaso, o dia até nem nasceu prometedor, se calhar a preparar-me a semana que vem e a não deixar-me muitas expectativas...
Enfim...
Entre o que escrevi, conta-se a história do nascimento de um carro que eu gosto muito e, como eu, milhões e milhões de pessoas em todo o Mundo. Um carro idolatrado, amado, desejado, intemporal e genial e, como todos os génios (mesmo sendo carro) com as suas manias...
Falo do VW, o beetle original, o carocha, tão versátil que a partir dele já se construiu todo o tipo de viaturas, sejam eles buggys, jipes, anfíbio, furgões, desportivos, limusinas, eu sei lá... Um daqueles carros em que tanto fica bem o snobe de casaca, como o veraneante de fato de banho... Conhecem outro carro assim?????
A ironia é que este carro foi concebido porque um ditador doente e megalómano (como todos, de resto...) quiseram fazer dele a obra e símbolo de um regime. E encontrou outro génio, este mais pacífico felizmente, que respirava mecânica, um genuíno autodidacta que aprendia fazendo e inventado, deixando um legado que ainda hoje perdura. Esse homem foi Ferdinand Porsche, que como Henry Ford acreditava na produção de carros em massa e, já na altura, na democratização do uso do automóvel.
Mas adiante…
Hitler pediu a Porsche um carro barato e fiável, fácil de construir e de manter. O objectivo era demonstrar a capacidade de uma Alemanha em recuperação económica pós primeira guerra, gerar empregos e proporcionar meio de transporte aos alemães menos abonados, e, naturalmente, fazer era fazer dele objecto de propaganda do regime.
Para Porsche não foi difícil obedecer aos requisitos técnicos exigidos — afinal até já tinha concebido antes protótipos que correspondiam ao desejado —, mais difícil foi conseguir que o modelo fosse vendido pelos tais 1000 marcos que o ditador impunha.
E não tarda estou a contar a história do carro…
(Mas quem quiser pode ver em http://www.cockpitnanet.blogspot.com «FERDINAND PORSCHE: Um homem e o seu sonho»
Só para dizer que este foi um carro nascido em plena preparação para o maior conflito bélico que o mundo assistiu. Ironicamente nenhum alemão a que se destinava, beneficiou dele durante o regime nazi. As poucas versões civis foram destinadas a membros do partido ou oficiais do exército, a paradas do governo. A produção, durante os anos do conflito, foi orientada para viaturas militares, os pequenos anfíbios e jipes que tantas dores de cabeça provocaram às tropas aliadas que combatiam Rommel no norte de África.
O VW nasceu durante a guerra, serviu na guerra e para a guerra e, ironia do destino, acabaria por se transformar num dos símbolos da geração pacifista dos anos 60/70, os hippies. Como Hitler um dia desejou, serviu para o povo, o alemão (ajudando decisivamente o País a recuperar economicamente da 2.ª Grande Guerra e transformar-se na potência que é hoje) e para o povo de todo o mundo, os menos abonados que o compravam em segunda, terceira e não sei quantas mãos, como primeiro carro, como carro de família, como viatura de trabalho, para as corridas, para o lazer. O VW esteve, e continua a estar em todas.
Transformou-se num carro de culto, amado, odiado, desejado, invejado, surpreendente nas suas múltiplas versatilidades. Está presente em todo o mundo, fez todas as rotas, mesmo as mais difíceis e exigentes do ponto de vista mecânico e, durante muitos anos, foi a sua base mecânica que serviu à VW e a muitos outros carroçadores, para construir novos modelos.
Este é o meu modesto contributo ao carro mais construído de sempre. O carro que um dia ainda hei-de ter!

1 comentário:

Anónimo disse...

Só mesmo um texto escrito por ti para me fazer passar quase 5 minutos completosa ler um artigo (ou um comentário alargado,ou uma liçãozita de história...chama-lhe o que quiseres.lol.)sobre um carro que eu até nem gosto muito e conseguir achar interessante...há coisas que nunca mudam :)
bj.